A relação entre as redes sociais (e o aplicativo WhatsApp) e a luta política tem sido mais do que debatida, sobretudo a partir do mau uso feito na última campanha eleitoral, disseminando notícias falsas.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
Vale também atentar para as suas implicações na vida de cada um de nós, simples usuários.
Principalmente para quem usa o Facebook e o Instagram, toda atenção é pouca.
Mas nem sempre amigos e amigas que os usam se dão conta disso.
Não se apercebem que se expõem publicamente — com todos os atrativos e riscos.
Por exemplo, em processos seletivos, seja por empresas privadas, seja na esfera pública para a ocupação de postos em governos, a consulta ao perfil do pretendente ao cargo nas redes sociais é hoje quase uma norma.
O pressuposto é: “Mostra-me o que publicas e eu te direi quem és.”
Uso regularmente as redes Facebook, Twitter e Instagram e o aplicativo WhatsApp, além de manter canal próprio no YouTube. Razoável grau de exposição pessoal, reconheço, ainda que a tônica das minhas postagens não seja de caráter íntimo.
Porém concessões tenho feito, até porque se me eximir de registros pessoais — tipo cenas do meu trabalho cotidiano, relações de amizades e que tais — os amigos sentem falta, pelo "espírito big brother" que reina entre os seguidores.
É como se as pessoas dissessem: “Tudo bem, sei o que você pensa, gosto das fotos que você faz e dos textos que escreve, mas quero saber algo do seu cotidiano como cidadão comum.”
Dentro de certos limites, preservando a própria privacidade, que a cada um cabe decidir, quando se pretende preservar as amizades via internet, e até ampliá-las, o jeito é atender em certa medida a esse reclamo.
Isto posto, aqui e acolá me preocupam algumas situações em que alguém nitidamente se expõe, fazendo postagens cujo teor pode suscitar percepções distorcidas sobre a sua real personalidade e comportamento.
Torna-os vulneráveis num ambiente competitivo, em que fluem a disputa por espaços, o ciúme e a maledicência.
Entretanto, uma vez advertidas do quanto é inadequada uma ou outra postagem, pela forma e pelo conteúdo, as pessoas tendem a subestimá-las. "Meus amigos sabem do que estou falando e que não sou o que possa estar parecendo ser", retrucam.
Ora, se as redes sociais alcançassem só os amigos íntimos não seriam "redes sociais", nem teriam a amplitude e a audiência que hoje têm. Para o bem e para o mau.
De toda forma, resta a hipótese de que eu é que seja ainda tímido em demasia ou antiquado ou até preconceituoso, e valha mesmo o "liberou geral" e cada um deva se expor como bem entender.
Será?
Luciano Siqueira, é médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.
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