Dos 497 municípios gaúchos, 435 relatam problemas relacionados a temporais e enchentes, afetando 1.916.070 pessoas. 69.617 pessoas estão em abrigos. Um óbito está sob investigação para saber se a causa foi ocasionada pelas enchentes.
Por Redação, com Brasil de Fato – de Brasília
O Rio Grande do Sul contabiliza até o momento 337.116 pessoas desalojadas, em decorrência das enchentes causadas pela maior crise climática do Estado. De acordo com o último boletim divulgado pela Defesa Civil do RS, às 9h desta sexta-feira, 113 pessoas morreram devido a tragédia, 146 estão desaparecidas e 756 feridas.
Dos 497 municípios gaúchos, 435 relatam problemas relacionados a temporais e enchentes, afetando 1.916.070 pessoas. 69.617 pessoas estão em abrigos. Um óbito está sob investigação para saber se a causa foi ocasionada pelas enchentes. Ainda de acordo com a instituição, 9.984 animais foram resgatados.
Conforme orienta a Defesa Civil, as pessoas resgatadas de áreas alagadas, inundadas ou que correm o risco de sofrer deslizamentos de terra não devem retornar para suas residências. A medida deve ser seguida especialmente por pessoas que vivem na Região Metropolitana de Porto Alegre.
“As condições atuais ainda não oferecem segurança plena para o retorno dos moradores. O risco persiste devido à previsão de novas ondas de chuvas para os próximos dias. Além dos perigos físicos, a preocupação com a saúde humana também é prioridade. A propagação de doenças é uma ameaça em ambientes alagados, representando um sério risco para a saúde pública.”
População se mobiliza para salvar animais perdidos na enchente
A comoção com o cavalo resgatado no telhado de uma casa submersa em Canoas após quatro dias ilustra o drama dos animais nas enchentes do Rio Grande do Sul. Segundo o governo do estado, até o fim da tarde de quarta-feira, Brigada Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros haviam resgatados quase 9 mil animais, número que não inclui resgates feitos pelos municípios e cidadãos.
Porto Alegre e região registram dois cenários com relação ao salvamento de animais. Há voluntários que atuam diretamente no resgate dos bichos e procuram achar os tutores. Outros, após o salvamento, recebem os animais e se mobilizaram para acolhe-los e também tentar encontrar seus tutores. Entre as tantas iniciativas, o Brasil de Fato mostra duas.
Acolhimento temporário na orla
A orla do Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro, virou um ponto de chegada de barcos com pessoas e animais resgatados das ilhas da Capital e do município de Eldorado do Sul. Ali se criou uma estrutura de acolhimento de animais salvos que não para nem à noite. O principal canal de divulgação do grupo é o Instagram, no perfil @resgatadosdasilhas.
Inicialmente eram cerca de 50 pessoas, todos voluntários, mas o grupo cresceu e hoje chega a ter mais de 100. A profissão não importa, apenas a disposição de ajudar, mas o grupo necessita de mais veterinários para auxiliar no trabalho.
Também pedem doações de água, coleiras e guias, focinheiras, peiteiras, cobertas, toalhas, caminhas, potes e pratinhos, roupas para cães porte M e G e materiais de limpeza, além de medicamentos e itens de cuidados veterinários (dipirona, antipulgas, vermífugos, antibióticos e anti-inflamatórios, algodão, gazes, esparadrapos, micropore, soro fisiológico e água oxigenada).
Voluntárias da ação, a engenheira Laura Freitas iniciou o trabalho ainda no último sábado. Segundo ela, é difícil dizer quantos animais chegam ao local diariamente. “A gente está ali na ponta da orla e simplesmente chegam as pessoas com os animais no colo, animais machucados, animais morrendo, e largam onde a gente estava se concentrando. A estimativa é que chegam 300 animais por dia. É uma quantidade gigantesca, provavelmente já passamos de mil animais abrigados, principalmente cães e gatos”, conta.
Ela afirma que o grupo de voluntários está pedindo doações para manter o serviço, mas que o local é uma base temporária. E destaca que estão enfrentando dificuldades para conseguir dar destino aos animais. “Não temos um abrigo parceiro, a gente a cada dia consegue um lugar, mas esse lugar superlota, daí a gente faz remanejo, tenta ver o que acontece.”
Segundo ela, 90% dos resgatados são cães e gatos. “Pode ser realmente que seja um animal sem dono e que já era abandonado. Pode ser sem dono, mas porque veio a informação que não tem dono e daqui a pouco o dono aparece. Tem também donos que não têm pra onde ir, não têm como levar o animal e nos deixam ali com a esperança de reencontrar depois em algum abrigo. E tem animais que têm dono e o dono depois vem ali procurar porque quer levar junto”, explica.
Laura diz que, desde o início, os voluntários estão tentando encontrar os tutores desses animais por meio de fotos. Nas redes do grupo, é possível ver registros do reencontro de tutores e seus animais. Contudo, pontua que a situação está ficando cada dia mais difícil. No início, havia uma organização de controle de todos os que chegavam e saiam, mas depois que precisaram mudar de local por conta do alagamento que aumentou, foram para um local sem cerca e “a partir de então virou um ambiente totalmente sem controle”.
Segundo ela, além de doações para dar conta da situação atual, há outra preocupação, maior e de médio e longo prazo. “Não há um espaço, um abrigo grande em Porto Alegre, e muito menos um abrigo que tenha parceria com a prefeitura para comportar esses animais”, alerta. Nos locais que aceitaram servir de abrigo temporário há o temor das pessoas depois pedirem que os animais sejam retirados. Já onde seguir abrigando, “vai começar a necessidade de mais funcionários, mais veterinários”.
Esse cenário, na avaliação de Laura, foge do controle dos civis e por isso ela apela para o apoio governamental. Destaca que todos os voluntários estão trabalhando de coração, mas o grupo não tem como assumir a responsabilidade que se projeta para o futuro.
– A gente está esperando o contato de governo, de pessoas com alcance maior, com um plano para os próximos anos, para o que vai acontecer, principalmente para fazer a gestão, para encontrar um lugar em Porto Alegre para concentrar esses animais, porque vai virar e já está um problema de saúde pública – afirma.
Voluntários pedem ajuda especializada em resgates
No outro lado da cidade, na Zona Norte de Porto Alegre, moradores se uniram para resgatar milhares de animais que ainda estão ilhados em telhados e residências inundadas. O ponto de apoio do grupo é a avenida 21 de Abril, no Sarandi, de onde o trabalho é feito em botes, lanchas e jet-skis particulares.
A protetora de animais Keissy Dagostin, do projeto Toda Vida Importa, é uma das voluntárias que está atuando desde a última sexta-feira. Ela afirma que fez um mapeamento com o jet ski de um amigo e mapeou milhares de animais a serem resgatados. E faz um apelo por ajuda especializada, pois segundo ela a região não está contando com resgates por bombeiros ou defesas civis.
– A gente precisa de pessoas especializadas nesse tipo de resgate. Eu tô toda mordida, minha mão toda mordida, porque a gente tá pegando na garra, no osso. Pegando do jeito que dá. Por mais que eu seja protetora, a gente não tem equipamentos pra isso – afirma. Destaca ainda que muitas pessoas ainda estão na região alagada e não querem sair. “A gente respeita, mas os animais não têm voz. Os animais precisam sair. Querem sair. Estão desesperados. Estão morrendo.”
Além de doações emergenciais, ela diz que o grupo precisa de pessoas que deem lar temporário aos animais. “Está vindo muito bicho, a gente tem que encaminhar esses animais para algum lugar, porque as famílias não estão nas suas casas”, diz Keissy. Ela explica que os voluntários estão anotando de onde os animais estão sendo retirados para depois o tutor vir procurar.
– Está uma coisa realmente bem organizada, mas a gente também pede para os tutores, que têm animal dentro de casa ainda, que venham até aqui. Estamos fazendo uma lista, pegando o nome da rua, tudo certinho. Tem muitas casas que já estão tapadas o número da rua e a gente não consegue achar. Então o tutor tem que vir até aqui para ir no barco junto – diz.
Ela lamenta que muitas vidas já foram perdidas. Em um dos casos, se deparou com um cavalo boiando. “Eu sou protetora, isso pra mim machuca. Estou à base de remédio para estar de pé e ter força pra tá aqui. Só que a gente precisa do apoio, todo o respeito ao nosso prefeito, governador, mas o Sarandi precisa de ajuda.”
O grupo informa que precisa de doações de luvas para resgate, caixas de transporte, cordas, toalhas, caminhas de pet, coleiras, coletes, potes, correntes, fucinheiras. Os materiais podem ser entregues na loja Surf House, ponto de apoio do grupo do Sarandi (Avenida 21 de abri).
Há também a necessidade de ração e cobertas, mas eles pedem que esse itens não sejam enviados para o local, pois a loja está com difícil acesso. Keissy pede que doações de ração e cobertas sejam entregues no bairro Rubem Berta (Rua Alberto Rangel, 542), ponto de apoio de voluntários que facilita o trabalho do grupo.
Doações também podem ser feitas por Pix, somente para as seguintes chaves: (telefone) 51 992377498 e (email) keissydago@hotmail.com. Mais informações sobre os resgates e o projeto na página do Instagram @projeto_todavidaimporta.