“A CPI precisa aprofundar não somente na VTCLog, mas em todo o grupo Voetur. Querem blindar a família Sá. A Zenaide (Sá Reis, responsável pelo setor financeiro) tem muitas informações, mas o Carlos Alberto de Sá (dono do grupo) possui contatos”, afirma o texto da carta encaminhada à CPI da Covid.
Por Redação - de Brasília
Uma carta apócrifa, enviada de forma anônima a senadores da CPI da Covid, oferece detalhes sobre os diretores das empresas VTCLog e Voetur e cita a suposta influência deles sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido); além de pedir que a comissão aprofunde as investigações iniciadas em julho deste ano.
A denúncia de funcionários da empresa, divulgada na edição desta quinta-feira do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP), sugere que três das dez companhias do grupo não têm empregados e que uma das gestoras “possui em sua agenda reuniões com a base do governo, especificamente o atual vice-presidente, general (Hamilton) Mourão”, mas não apresenta provas.
Suspeita
“A CPI precisa aprofundar não somente na VTCLog, mas em todo o grupo Voetur. Querem blindar a família Sá. A Zenaide (Sá Reis, responsável pelo setor financeiro) tem muitas informações, mas o Carlos Alberto de Sá (dono do grupo) possui contatos”, afirma o texto. “A diretoria dessa empresa conta com um secretário/assessor que detém informações sérias. Luis Henrique é o nome dele, presta inúmeros favores a Andreia Lima, Raimundo Nonato Brasil e Ana Paula Sá, fora os demais diretores”, acrescenta o texto.
Questionado por jornalistas sobre as acusações, o grupo Voetur afirma desconhecer o teor da carta, e "rechaça veementemente o seu conteúdo leviano”. A empresa afirma que buscará "as medidas judiciais cabíveis contra todas as falácias apontadas à imagem da empresa e de seus colaboradores".
"Há mais de três décadas as empresas que compõem o grupo atuam na absoluta lisura de suas funções, tendo todos os contratos firmados na administração pública supervisionados por rigorosos processos de fiscalização e controle", acrescenta.
A empresa também encaminhou um documento do Tribunal de Contas da União (TCU) de "nada consta" no nome jurídico da VTC. A Vice-Presidência da República informou que não iria se manifestar sobre o assunto. A VTCLog/Voetur é suspeita de manter um esquema de propina envolvendo Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, o que ambos negam.
Privatizado
A VTCLog assumiu toda a logística de distribuição de vacinas, medicamentos e outros insumos do país em 2018, quando o ministro da Saúde era Ricardo Barros, hoje deputado federal (PP-PR) e líder do governo Bolsonaro na Câmara. Anteriormente, esse trabalho era realizado, há mais 20 anos, pela Central Nacional de Armazenagem e Distribuição de Imunobiológicos (Cenadi). A justificativa foi que a privatização tornaria o serviço mais eficiente, mas não foi o que ocorreu.
Funcionários que recebem as remessas nos Estados reclamam de problemas na logística, como itens errados, atrasos nas entregas e desorganização na comunicação, conforme a FSP mostrou, em reportagem citada na carta anônima.
“As chefias (da VTCLog) são em sua maioria pessoas da família Sá ou de muita confiança da família, mesmo que sem capacitação profissional para exercer tais funções. É comum o desvio de função dentro dos setores e a cultura organizacional é baseada no medo”, resumem os denunciantes.