Sem uma solução para a miséria, Guedes será ‘carta fora do baralho’
Guedes — que cancelou as férias e permanecerá em gabinete durante os dias que antecedem as festas de fim de ano — discorda, frontalmente, da extensão de algum tipo de auxílio emergencial.
Segunda, 21 de Dezembro de 2020 às 10:47, por: CdB
Guedes — que cancelou as férias e permanecerá em gabinete durante os dias que antecedem as festas de fim de ano — discorda, frontalmente, da extensão de algum tipo de auxílio emergencial para 2021. Mas Bolsonaro o tem pressionado para que encontre uma solução capaz de abrigar mais de 35 milhões de brasileiros.
Por Redação - de Brasília
Embora o presidente tenha dito ao filho ’02’, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos/RJ), que o ministro da Economia, Paulo Guedes, somente deixará o governo junto com ele, em 2023, a realidade é a outra. Fontes do Congresso disseram à reportagem do Correio do Brasil, em condição de anonimato, nesta segunda-feira que, na verdade, a presença do economista no cargo está “por um fio”.
Ministro da Economia, Paulo Guedes tem se distanciado, cada vez mais, do discurso negacionista do presidente Bolsonaro (sem partido)
— Sem o auxílio emergencial, o Ministério da Economia tende a se transformar em uma panela de pressão, tamanha será a gritaria de milhões de brasileiros que despencarão, do dia para a noite, no abismo da miséria absoluta, sem qualquer fonte de recursos, em meio à pandemia. Se não apresentar uma solução para esse drama, que tem data para começar em mais duas semanas, Guedes será inútil para o governo, uma carta fora do baralho — observou um assessor parlamentar do Senado, nesta manhã, por telefone.
Guedes — que cancelou as férias e permanecerá em gabinete durante os dias que antecedem as festas de fim de ano — discorda, frontalmente, da extensão de algum tipo de auxílio emergencial para 2021. Mas Bolsonaro o tem pressionado para que encontre uma solução capaz de abrigar mais de 35 milhões de brasileiros que, sem algum tipo de ajuda durante a pandemia, ingressarão quase que instantaneamente na condição de miseráveis.
Covid-19
Para o público externo, no entanto, Jair Bolsonaro (sem partido) tem apoiado o seu ministro da Economia e dito que o auxílio emergencial não será prorrogado. Além disso, o chefe do executivo confirmou que não será criado um novo programa de distribuição de renda e afirmou que a ideia é “aumentar um pouquinho” o atual programa assistencial Bolsa Família. Segundo Bolsonaro, o auxílio pago a vulneráveis por causa da crise provocada pela covid-19 tem caráter emergencial. Segundo ele, o Brasil conta com uma capacidade de endividamento e não pode se “desequilibrar”.
— Quem falar em Renda Brasil, eu vou dar cartão vermelho, não tem mais conversa — tem repetido Bolsonaro, aos repórteres.
O Renda Brasil era o programa previsto pelo Governo para substituir o Bolsa Família.
— Auxílio é emergencial, o próprio nome diz: é emergencial, Não podemos ficar sinalizando em prorrogar e prorrogar e prorrogar — disse o presidente, acrescentando que “acaba agora em dezembro”.
Fonte de renda
Ao se referir que agora o foco será o Bolsa Família, Bolsonaro confirmou o que tem falado para a equipe econômica:
— Vamos tentar aumentar um pouquinho isso daí.
A questão, no entanto, nem é aumentar “um pouquinho isso daí (sic)”, mas atentar para o que revela uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada nesta manhã. O estudo aponta para o fato que o auxílio emergencial é única fonte de renda para 36% das famílias que receberam ao menos uma parcela do benefício neste ano. Reduzido de R$ 600 para R$ 300, ele ainda é responsável por sustentar, por baixo, 25 milhões brasileiros.
Na última pesquisa Datafolha sobre o assunto, em agosto, 44% dos brasileiros tinham o auxílio emergencial como única fonte de renda. O novo levantamento mostra ainda que a renda familiar de 51% das casas do país, diminuiu.
Ainda na pesquisa, outro dado ressalta a influência do corte do auxílio na rotina das pessoas. Com apenas R$ 300, o principal efeito foi a adoção de ações para cortar gastos. Cerca de 75% da população diminuiu a compra de alimentos e outros 65% cortaram despesas com remédios. Além disso, 55% deixaram de pagar as contas da casa e 51%, pararam de pagar escola ou faculdade.
Fome e miséria
Segundo o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), o fim do auxílio elevará a taxade miséria, no país, a um patamar inédito.
— A fome está batendo na porta dos brasileiros depois que Bolsonaro acabou com o auxílio emergencial, que é a única fonte de renda de 25 milhões de pessoas. Nós não podemos abandonar essas famílias, por isso estamos lutando na Câmara para criar a renda básica permanente — afirmou o parlamentar.
A economista Tânia Bacelar, especialista em desigualdade social no país, também vê com apreensão o encerramento do benefício.
— O auxílio emergencial foi central e não pode desaparecer. É irrealista pensar que a economia vai dar conta do mercado de trabalho em 2021. Não vai dar — disse, a jornalistas.
Bacelar insiste que o benefício social precisa integrar a agenda da sociedade, pois a economia não vai dar conta de assegurar o bem-estar da população.
— A desigualdade é abissal e está se aprofundando — concluiu.