Na troca de acusações entre o Kremlin e a Casa Branca, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia acusou os EUA de ignorarem as restrições do espaço aéreo que Moscou impôs nas regiões costeiras do Mar Negro, desde o início da guerra com a Ucrânia.
Por Redação, com RTP - de Moscou/Kiev
A polêmica queda do drone norte-americano, sob suspeita de ter sido abatido por caças russos, continua a gerar disputas entre Washington e Moscou. Depois de negar ter provocado intencionalmente o incidente, a Rússia acusou os Estados Unidos (EUA) de não respeitarem as limitações do seu espaço aéreo. Na tentativa de recuperar os destroços do aparelho, tanto forças russas quanto norte-americanas fazem buscas no local.
Na troca de acusações entre o Kremlin e a Casa Branca, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia acusou os EUA de ignorarem as restrições do espaço aéreo que Moscou impôs nas regiões costeiras do Mar Negro, desde o início da guerra com a Ucrânia.
– Ignoraram completamente o fato de, após o início da operação especial, os nossos militares terem declarado as áreas relevantes do Mar Negro com status limitado para o uso de qualquer aeronave – afirmou Serguei Lavrov, em entrevista à televisão estatal russa na quarta-feira.
As acusações não pararam por aí. O ministro russo culpou ainda os EUA de procurarem constantemente provocações destinadas a aumentar as tensões. “Qualquer incidente que provoque um choque entre as duas grandes potências nucleares representa sempre um grande risco”.
No mesmo dia, o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, disse também ao ministro norte-americano que o “reforço” das operações de espionagem pelos EUA foi uma das causas do incidente.
– As causas do incidente são a não observância pelos Estados Unidos da área de voo restrita, anunciada pela Rússia e estabelecida como resultado da condução da operação militar especial [na Ucrânia], bem como o reforço das atividades de inteligência contra os interesses russos – afirmou Shoigu, citado em comunicado do Ministério da Defesa.
Nesta quinta-feira, ele conversou com o secretário norte-americano da Lloyd Austin. Afirmou que os “voos de drones norte-americanos estratégicos ao largo da Crimeia são de natureza provocativa” e “criam as condições para uma escalada no Mar Negro".
"A Rússia não quer esses acontecimentos, mas reagirá proporcionalmente a qualquer provocação", disse a Defesa russa, considerando que "as principais potências nucleares devem agir da forma mais responsável possível, em particular mantendo canais de comunicação abertos para discutir qualquer situação de crise".
Do lado norte-americano, Austin reafirmou que "é importante que as grandes potências sejam modelos de transparência e comunicação, e os Estados Unidos vão continuar a fazer voos e a operar em todas as regiões que sejam permitidas pela lei internacional”.
Perseguição de drone
O Ministério da Defesa da Rússia teria dado ordem para que os caças russos perseguissem o drone norte-americano que sobrevoava o Mar Negro, no início desta semana, de acordo com dados dos serviços secretos dos Estados Unidos. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, houve conhecimento por parte das altas patentes e aprovação superior para o “assédio” à aeronave.
– As nossas aeronaves, os nossos drones foram perseguidos por pilotos russos de forma quase consistente. Afirmar que é um padrão consistente é em consequência das ações dos pilotos e não parece verdadeiro dizer que o fazem por vontade própria – afirmou Ned Price em entrevista.“O fato de termos observado um padrão por parte das forças da Federação Russa sugere que há, pelo menos, aprovação de altos escalões para esse tipo de atividade”.
– Sabemos que a interceptação foi intencional. Sabemos que o comportamento agressivo foi intencional e também sabemos que foi muito pouco profissional e seguro – afirmou o presidente do Estado-Maior dos EUA.
Mark Milley admitiu, contudo, que ainda não há certeza de que o “contato real dos caças russos” com o aparelho norte-americano , que levou à queda do aparelho, tenha sido também intencional. O general tentou garantir que não está prevista qualquer repercussão imediata à Rússia, além das advertências contra as agressões de Moscou.
– Não pretendemos provocar um conflito armado com a Rússia e acredito que, neste momento, devemos investigar esse incidente e seguir em frente.
Recuperar destroços
Na quarta-feira, a Rússia já tinha admitido que pretendia recuperar os destroços do drone abatido no Mar Negro para provar o envolvimento dos EUA na operação na Ucrânia. De acordo com as autoridades norte-americanas, as forças russas já chegaram ao local do acidente. Washington, por sua vez, também pretende recuperar parte do aparelho e investigar os motivos do Kremlin.
– Não sei se vamos conseguir alcançá-lo, mas temos que tentar. Necessariamente, vamos nos esforçar para isso e espero, claro, com sucesso – disse o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev. O objetivo, segundo ele, é provar que os EUA “estão participando diretamente” da guerra.
Os EUA garantem que “tomaram medidas” para que o equipamento não caísse nas mãos das autoridades russas. O general Mark Milley não descartou a possibilidade de Moscou tentar recuperar os destroços do aparelho, mas assegurou que seria uma operação difícil.
– Não temos navios no Mar Negro neste momento", e o drone provavelmente partiu-se e afundou numa área de grande profundidade. Mesmo que a Rússia consiga recuperar os destroços, os Estados Unidos tomaram medidas para proteger qualquer informação sensível. Estamos confiantes de que tudo o que podia ter valor desapareceu – disse o general.
Apesar de Washington considerar difícil recuperar o drone antes de Moscou, o software do aparelho pode ter sido apagado remotamente antes de cair, de forma a evitar que a Rússia tivesse aceso a informações secretas norte-americanas.