A capacidade do rock de se reinventar e continuar relevantes, foi se esticando até a década de 90, onde bandas grunge se contrapunham ao momento de uma onda acústica.
Por André Barroso – do Rio de Janeiro
Rock é rock mesmo, não podia ser uma frase melhor. Ela é da tradução do título do filme The Song Remains The Same, estrelada pelo Led Zeppelin, no antológico show no Madison Square Garden, em Nova York, em três noites no ano de 1973. A construção do estilo musical mais pulsante, foi pavimentada, desde o blues e popularizada pelo rei Elvis. Ela sempre foi dada como polêmica, sexual e provocante na sociedade. O próprio nome Rock n`roll, foi dado pelos pretos americanos, no começo do século XX, se referindo ao ato sexual. Quando os brancos se apropriaram do estilo, com músicos como Bill Halley e Elvis Presley, os jovens imediatamente se identificaram, pois o ambiente na década de 50 era conservador. O estilo foi se aprimorando, chegando ao auge na década de 70, com a consagração de Jimi Hendrix, os festivais hippies e todos os manifestos contra as guerras.
A capacidade do rock de se reinventar e continuar relevantes, foi se esticando até a década de 90, onde bandas grunge se contrapunham ao momento de uma onda acústica. Por incrível que pareça, a famosa frase, que tenta enterrar o estilo, foi anunciada em 1958, com o alistamento de Elvis no exército americano. O Rock morreu, foi utilizado em vários outros momentos como no dia do acidente aéreo que matou de uma vez Buddy Holly, Richie Valens e Big Bopper. Foi utilizada também no fim dos Beatles, em 1970, mas mesmo com a frase de John Lennon, “o sonho acabou”, o rock está presente nas nossas vidas a todo vapor nos dias de hoje, agora voltando ao underground.
O sonho havia acabado nos dias atuais? Não! Porém, aqueles jovens músicos contestadores de ontem se transformaram em velhos conservadores atuais. O amor da juventude migrou para o Hip Hop, Trap, funk carioca e Rap, onde os músicos conseguem através da fala, se conectar com as classes de periferia e suas necessidades, desejos e ambições. Os grandes festivais que começaram a se tornar um grande atrativo para multidões, despertou a cobiça de empresários que viam um grande negócio e grandes bandas conseguirem motivar um público monumental para um concerto de rock. Se antes tínhamos Woodstock, com muitas limitações técnicas, mas com presença de grandes bandas e um público fiel, hoje temos festivais como Lollapalooza que, como o mesmo casting, roda o mundo como garantia de negócio lucrativo.
O rock continua importante e relevante. Paul McCartney, tem o maior público registrado em um show no estádio do Maracanã. O próprio Beatles possui a maior vendagem de CDs da história, com mais de 423 milhões registrados. Nos cinemas atuais, o filme Stop Making Sense, volta aos cinemas repaginado, com registros do diretor Jonathan Demme e um show incrível, artístico e performático do auge da banda Talking Heads, faz o público ir ao cinema não com nostalgia, mas com vontade de se conectar ao estilo musical. Hoje temos a recuperação de protagonismo de forma individual, sem um movimento que fortaleça o estilo como um todo, mas nos brindando com a força e qualidade de antes. Temos Greta Van Fleet, Maneskin, Michael Kiwanuka, White Lies, IDLES, Wallows, Dirty Honey, e ainda no Brasil com Black Pantera, Terno Rei, Aminoácido, Melton Sello e André Barroso e banda. Este último, podem conferir no link – https://open.spotify.com/intl-pt/album/51CaWcyTyESVa6UxlmAgFB
Guitarra rasgada
Tradicionalmente, no Rock in Rio, até como o título sugere, o rock dá as cartas. Se antes era todo festival conectado ao estilo musical, hoje aparece em poucos dias, porém sempre com sucesso de vendagem e lotação esgotada logo na abertura das compras online. Todos os anos. E este ano, finalmente teremos uma reparação histórica, afinal da tríade de bandas tidas como mais importantes do estilo: Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, a última estará presente tocando o recém lançado trabalho =1. O trabalho muito elogiado pela crítica, mostra a banda septuagenária com força e vigor musical. Fora podermos ouvir clássicos como Smoke on the Water. Também poderemos conferir os hits de Journey e a potência de Amy Lee, cantora do Evanescence. O brilho da noite do rock estará garantido, mesmo que tenha saído do Mainstream como estilo preferido da juventude.
Os mitos guerreiros da guitarra rasgada, construídos no calor da luta no palco, mesmo vencida pelo triunfalismo da imprensa, costumam resistir a reavaliações posteriores. E se os fatos desmentem as lendas, fique-se com as lendas.
André Barroso, é artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto.
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