Em entrevista virtual a jornalistas, Campos Neto disse que o universo de atuação do BC hoje equivale a 16,7% do PIB, em instrumentos para a liberação de liquidez, comparado a 3,5% do PIB em 2008.
Por Redação - de Brasília
Presidente do Banco Central, o economista Roberto Campos Neto afirmou, nesta segunda-feira, que o Banco Central (BC) tem recursos para fazer frente a qualquer tipo de crise. Ele diz que está “absolutamente tranquilo”.
Em entrevista virtual a jornalistas, Campos Neto disse que o universo de atuação do BC hoje equivale a 16,7% do PIB, em instrumentos para a liberação de liquidez, comparado a 3,5% do PIB em 2008.
— Estamos obviamente dispostos a fazer novas medidas. O arsenal que BC tem hoje é muito grande para combater qualquer tipo de crise. O BC está absolutamente tranquilo e o sistema financeiro nacional vai funcionar perfeitamente — afirmou, após destacar que a autoridade monetária está disponível para prover o incentivo que for necessário.
Impacto
Campos Neto frisou, ainda, a autarquia elabora medida com potencial de liberar até R$ 670 bilhões em liquidez atualmente retida em operações de crédito do sistema financeiro, por meio de empréstimos com lastro em letras financeiras. O BC, segundo apresentação divulgada à imprensa, também estuda nova liberação de compulsórios e direcionamentos para créditos a pequenas e médias empresas.
Apesar da tentativa de acalmar os investidores, o presidente do BC assinou a ata do Conselho de Política Monetária (Copom), que ele preside, na qual a autarquia alerta que, no impacto da pandemia do novo coronavírus, o ambiente econômico para países emergentes, como o Brasil, rapidamente se transformou de favorável a desafiador. O Copom decidiu, na última semana, reduzir a taxa básica de juros, a Selic, para 3,75% ao ano, com corte de 0,5 ponto percentual.
Na ata da reunião, divulgada nesta segunda-feira, o Copom avalia que, no cenário externo, “a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities [produtos primários com cotação internacional] e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros”.
“Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulo monetário [redução dos juros] pelas principais economias, o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador”, destacou o Conselho.
Efeitos
O Copom destacou, ainda, que a pandemia afeta a economia brasileira de três formas. Uma delas é o “choque de oferta, derivado da interrupção das cadeias produtivas”. Mas, afirma que esse feito “terá pouca importância quantitativa, devido à pouca interligação da economia brasileira com as cadeias de produção mundiais”.
O segundo efeito é um “choque nos custos de produção, mensurado pela variação de preços das commodities e de importantes ativos financeiros”. E o terceiro efeito é a “retração de demanda, proveniente do aumento da incerteza e das restrições impostas pela pandemia”.
Entretanto, acrescentou o Copom, “uma redução da taxa básica de juros além de 0,50 ponto percentual poderia tornar-se contraproducente e resultar em apertos nas condições financeiras, com resultado líquido oposto ao desejado”.
Agências
As principais agências de risco do mundo concordam com a posição do Copom. Haverá “algum custo fiscal” a partir das medidas econômicas e monetárias anunciadas pelo governo brasileiro nos últimos dias para mitigar os efeitos da crise do coronavírus, e as ações devem ter impacto limitado sobre investimento e consumo dada a demanda afetada por causa das medidas de contenção, avaliou nesta segunda-feira a agência de classificação de risco Moody’s.
“Embora essas medidas atenuem parte do impacto na atividade econômica, o impacto negativo no emprego e no crescimento permanece grave”, disse a Moody’s, lembrando que o governo revisou na semana passada sua expectativa de crescimento para o PIB neste ano de 2,1% para praticamente zero.
O governo anunciou medidas no valor de quase 150 bilhões de reais para atacar os efeitos econômicos do vírus. Além disso, o Banco Central aprovou ações para melhorar a capacidade dos bancos de manter concessões de crédito.
Fora da faixa
“A capacidade do governo de fornecer uma resposta fiscal mais forte é limitada por seu déficit fiscal”, acrescentou a agência, que projeta déficit nominal em torno de 7% do PIB em 2020. Ainda assim, a Moody’s disse que, até o momento, a resposta do governo se dá preservando o teto de gastos e mantém apoio à “ampla agenda de reformas fiscais e estruturais do Brasil”.
A Moody’s atribui rating “Ba2” para o Brasil —fora da faixa de investimento—, com perspectiva estável.