Rio de Janeiro, 22 de Novembro de 2024

Premiê indiano sofre derrota em meio à catástrofe da covid-19

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Segunda, 03 de Maio de 2021 às 07:57, por: CdB

Acusado de priorizar eleições em detrimento da pandemia, Narendra Modi vê seu partido, nacionalista hindu, perder nas urnas em estado-chave. Especialistas apontam comícios da legenda como um dos motores de contágios.

Por Redação, com DW - de Nova Délhi O partido do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, sofreu uma esmagadora derrota eleitoral em um estado-chave no domingo, indicando que sua legenda nacionalista hindu pode estar perdendo força política em meio à batalha do país contra uma alta dramática de contágios pelo coronavírus.
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Modi sai enfraquecido de pleito em estado-chave, apontam analistas
O Partido do Povo Indiano (Bharatiya Janata Party - BJP), de Modi, não conseguiu impedir a reeleição da governadora Mamata Banerjee no Estado de Bengala Ocidental, onde Modi havia encabeçado uma série de comícios antes do pleito. O partido Todo o Congresso da Índia Trinamool (TMC), liderado por Banerjee, conquistou 213 dos 292 assentos da assembleia estadual, enquanto o BJP assegurou 77. Ferrenha crítica do premiê, Banerjee é a única mulher a comandar um governo estadual no país. Ao festejar o resultado, ela afirmou que Bengala Ocidental "salvou" a Índia com o resultado e que combater a covid-19 será sua principal prioridade. Bengala Ocidental, com 90 milhões de habitantes e cuja principal cidade é Calcutá, é um dos poucos Estados que nunca foi governado pelo partido nacionalista hindu de Modi. Seu partido também amargou derrotas nos Estados de Tamil Nadu e Kerala, no sul do país, mas assegurou um segundo mandato no Estado de Assam, no nordeste do país, e uma aliança com partidos regionais levou à vitória no território de Puducherry. As eleições regionais já eram vistas como desafios para o BJP mesmo antes da atual onda devastadora de covid-19. Analistas afirmam que o partido de Modi sai enfraquecido dos pleitos, mas que por enquanto seu mandato, que vai até 2024, não está ameaçado. – O BJP começou a perder força quando a pandemia se espalhou – disse o analista político Nilanjan Mukhopadhyay. "O resultado no Estado de Bengala Ocidental enfraquecerá definitivamente a posição de Modi", acrescentou, mas ele advertiu que os resultados precisam ser estudados mais a fundo para determinar o quanto são um referendo sobre a gestão da covid-19 por parte do BJP.

Eleições à frente da pandemia

A Índia registrou nesta segunda-feira mais de 368 mil novas infecções pelo coronavírus e 3.417 mortes em decorrência da covid-19 em 24 horas, após registrar recordes de óbitos e de casos diários no fim de semana. O governo de Modi tem sido severamente criticado pela gestão da epidemia no país, que deixou o já frágil e subfinanciado sistema de saúde indiano à beira do colapso. Hospitais enfrentam falta de leitos, medicamentos e oxigênio, e pacientes morrem à espera de atendimento. Modi vem sido acusado de priorizar eleições em detrimento do combate à pandemia. Além de novas variantes, grandes eventos, incluindo um enorme festival hindu às margens do Ganges, e comícios eleitorais organizados pelo Partido do Povo Indiano em março e abril podem ter exacerbado a propagação do coronavírus, afirmam especialistas. Na semana passada, o supremo tribunal do Estado de Tamil Nadu criticou a Comissão Eleitoral por permitir eventos de campanha lotados em meio ao grave surto de coronavírus. Os casos na Índia começaram a aumentar para além de 100 mil por dia no final de março e passaram a ficar acima de 300 mil em 21 de abril. "A sua instituição é singularmente responsável pela segunda onda da covid-19. Seus oficiais devem ser acusados de assassinato", disse o tribunal à comissão.

"Não podemos permitir que pessoas morram"

Com o governo incapaz de manter um suprimento constante de oxigênio, várias autoridades hospitalares solicitaram uma intervenção da Justiça na capital indiana, onde o confinamento foi prorrogado por mais uma semana para conter a onda de infecções. "A água subiu acima da cabeça. Já chega", disse o tribunal superior de Nova Délhi no fim de semana, acrescentando que começaria a punir funcionários do governo se suprimentos de oxigênio destinados a hospitais não forem entregues. "Não podemos permitir que pessoas morram", disseram juízes do tribunal. Líderes de 13 partidos de oposição assinaram uma carta exortando o governo a impulsionar a vacinação gratuita e garantir um fluxo ininterrupto de oxigênio para todos os hospitais do país. Diante da situação dramática, cerca de 40 países estão enviando ajuda à Índia em forma de equipamentos, testes rápidos para vírus e oxigênio, junto com alguns materiais necessários para o país aumentar sua produção nacional de vacinas contra covid-19. No domingo, um avião de carga fretado pela França aterrissou em Nova Délhi com 28 toneladas de equipamentos médicos, incluindo oito geradores de oxigênio de grande capacidade. Na sexta, um avião militar dos EUA com suprimentos médicos pousou em Nova Délhi, e um avião alemão chegou ao país no sábado. O Reino Unido anunciou que enviará mil respiradores.

Alta dramática de contágios

Há dez dias, a Índia vem registrando mais de 300 mil infecções a cada 24 horas. No total, o país já confirmou quase 20 milhões de infecções pelo coronavírus desde o início da pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos, que contabilizaram mais de 32,4 milhões, e à frente do Brasil, que soma mais de 14,7 milhões. Mais de 218 mil pessoas na Índia morreram de covid-19, de acordo com o Ministério da Saúde. Acredita-se que os números oficiais de casos e óbitos sejam muito mais baixos do que os reais, devido à subnotificação. A Índia abriu sua campanha de vacinação para pessoas entre 18 e 44 anos no sábado, uma tarefa gigantesca sendo minada pela disponibilidade limitada de doses. Vários Estados já advertiram que estão ficando sem vacinas. Apesar de o país ser o maior produtor mundial de imunizantes, vacinar seus 1,3 bilhão de habitantes é um enorme desafio. Desde o início da campanha de imunização contra a covid-19, em janeiro, 10% dos indianos receberam ao menos uma dose, mas apenas cerca de 1,5% receberam as duas doses necessárias.
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