No início do mês, o Pontífice falou a jovens russos que eles eram "herdeiros da grande mãe Rússia" e provocou protestos de Kiev, que acusa Moscou de utilizar a suposta "necessidade de salvar a grande mãe Rússia" para justificar o "assassinato de milhares de homens e mulheres na Ucrânia".
Por Redação, com ANSA - da Cidade do Vaticano
A popularidade do papa Francisco despencou entre o povo ucraniano após o religioso ser alvo de críticas por suas recentes declarações sobre a Rússia.
No início do mês, o Pontífice falou a jovens russos que eles eram "herdeiros da grande mãe Rússia" e provocou protestos de Kiev, que acusa Moscou de utilizar a suposta "necessidade de salvar a grande mãe Rússia" para justificar o "assassinato de milhares de homens e mulheres na Ucrânia".
O principal conselheiro do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse, inclusive, que Jorge Bergoglio não pode servir de mediador no conflito com o regime de Vladimir Putin por ter assumido uma posição "pró-Moscou".
Segundo estatísticas, antes da guerra, 64% do povo ucraniano apoiava o papa, mais do que em outros países. Hoje, no entanto, o nível de pessoas que apoiam o líder da Igreja Católica é de pouco mais de 6%
– Nós próprios entendemos que as palavras do papa sobre a 'grande mãe Rússia' foram proferidas de uma forma mal pensada e demasiada espontânea. O próprio papa reconheceu isso, respondendo a jornalistas – explicou à agência italiana de notícias ANSA o jovem bispo católico de Kiev-Zhytomyr, monsenhor salesiano Vitaliy Krivitskiy, 51 anos, que está em Berlim para participar do Encontro de Sant'Egidio.
Para o religioso, "certamente, para as pessoas que apenas ouvem estas declarações mais recentes do papa, cria-se dele uma imagem um tanto negativa, mas o contexto é totalmente diferente para as pessoas que seguem continuamente o Papa, que sabem quantas vezes ele fala sobre a Ucrânia, quantas vezes ele menciona isso em todos os seus discursos".
Desde o início da guerra na Ucrânia, o papa já fez inúmeros apelos em defesa de Kiev e já condenou a brutalidade das tropas russas na guerra.
Questionado sobre o que o Santo Padre poderia dizer claramente para não ser mal compreendido em relação à Ucrânia, o monsenhor respondeu que "toda a Igreja espera que o Papa tenha clareza, que ele chame as coisas pelo seu nome, a respeito da guerra, ou seja, do agressor, como ele realmente é".
– Francisco já falou sobre essas coisas, mas talvez não com a clareza necessária, para que não tenhamos que fazer essas perguntas novamente – acrescentou ele à ANSA, lembrando que, nos últimos dias, os julgamentos negativos das autoridades de Kiev sobre o Papa "pró-Rússia" assumiram o centro das atenções.
De acordo com Krivitskiy, em relação ao povo ucraniano em geral, "certamente o ponto de vista em relação ao papa mudou" após as declarações.
– Nosso povo hoje está muito cansado da situação, sem saber o que acontecerá amanhã. A situação hoje em Kiev e na região ao redor é muito diferente de um ano, um ano e meio atrás. Por um lado ouvimos que as coisas estão sob controle, mas por outro, o que não está sob controle são os constantes ataques que sofremos – relatou.
As fronteiras
Krivitskiy explicou ainda que, "embora as fronteiras estejam longe de nós, há muitas pessoas de nossas regiões que estão morrendo. E ainda há muitas pessoas que precisam de ajuda humanitária, que não têm casa, nem emprego".
– Apesar de tudo o que é dito sobre a Ucrânia, continuamos a acreditar que a Ucrânia vencerá. A questão da vitória da Ucrânia tem uma resposta para nós, para a qual simplesmente não há alternativa. E não há outras saídas para nós, para o nosso país – ressaltou.
O monsenhor comentou ainda sobre as expectativas nutridas pela missão de paz do cardeal Matteo Zuppi, enviado do papa. "Tive um encontro pessoal com o cardeal quando ele veio a Kiev, mas não sei exatamente quais foram os resultados da todas as reuniões que teve depois de se encontrar comigo. Gostei muito que o cardeal não tenha vindo para nos dizer o que deveríamos fazer, mas simplesmente para nos mostrar o seu apoio", afirmou.
Por fim, Krivitskiy reforçou que "devemos sempre procurar o diálogo e procurar soluções para os diferentes desafios que surgem". "Se algo pode ser feito para encontrar, para ter a paz e a justiça que todos queremos alcançar, certamente estamos rezando por isso", concluiu.