Rio de Janeiro, 03 de Julho de 2025

Bolsonaro irrita Pompeo após recuar na promessa de base militar aos EUA

Nos EUA, Bolsonaro foi criticado no gabinete do secretário de Estado, Mike Pompeo, que teria se enfurecido com o direitista aliado.

Quarta, 09 de Janeiro de 2019 às 12:43, por: CdB

Nos EUA, Bolsonaro foi criticado no gabinete do secretário de Estado, Mike Pompeo, que teria se enfurecido com o direitista aliado.

 
Por Redação, com agências internacionais - de Washington
  O retrocesso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) quanto à cessão de uma área no território nacional para instalação de uma base militar norte-americana, possivelmente no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), fronteira com a Venezuela, tem levado ao descrédito o novo regime, justamente onde ele busca estabelecer um apoio decisivo à sua subsistência.
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Coube ao general Fernando Azevedo e Silva a tarefa de desmentir a notícia de que o Brasil cederia espaço para uma base militar aos EUA
Nos EUA, Bolsonaro foi criticado no gabinete do secretário de Estado, Mike Pompeo, que teria se enfurecido com o direitista aliado, algumas horas após gastar um elogio à decisão do mandatário sul-americano de se submeter à superioridade militar norte-americana. Segundo jornalistas que cobrem a Casa Branca, o retrocesso de Bolsonaro reflete “a falta se seriedade do novo governo”, comentou um dos correspondentes.

Fora do pacto

“As mensagens diametralmente opostas e o aparente retrocesso sobre a possível base norte- americana destacam a fragilidade do gabinete de Bolsonaro, composto por ex-generais estatistas; nacionalistas de direita, economistas treinados em Chicago e conservadores cristãos; todos com diferentes prioridades. “O plano de se oferecer para hospedar uma base parece ter sido abandonado devido à oposição das forças armadas, que vêem uma presença estrangeira como uma transgressão da soberania nacional”, repercutiu a agência norte-americana Voice of America (VOA), em linha com os comentários ouvidos no gabinete de Pompeo. Coube ao general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, desmentir o capitão da reserva, hoje no comando das Forças Armadas. Em outra tentativa de agradar à administração de Donald Trump, Bolsonaro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, comunicou na noite passada que o Brasil está fora do Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e Regular, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Brasil soberano

O Itamaraty enviou telegrama aos diplomatas brasileiros em que solicita que o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e o diretor-geral da Organização Internacional de Migração, António Vitorino, sejam comunicados da decisão e também de que o país não deverá participar de qualquer atividade relacionada com o pacto ou sua implementação. O próprio presidente confirmou a revogação da adesão do país ao documento, por meio do Twitter, na madrugada de hoje. "O Brasil é soberano para decidir se aceita ou não migrantes", disse o presidente. "Não ao pacto migratório”, acrescentou, em sua conta no Twitter. Em seguida, Bolsonaro justificou a decisão afirmando que os migrantes que entrarem no país a partir de agora deverão se enquadrar ao pensamento de extrema-direita de seu governo.

Bravata

"Quem porventura vier para cá deverá estar sujeito às nossas leis, regras e costumes, bem como deverá cantar nosso hino e respeitar nossa cultura. Não é qualquer um que entra em nossa casa, nem será qualquer um que entrará no Brasil via pacto adotado por terceiros”, diz Bolsonaro, em tom de bravata. O Pacto Global para Migração, que tem sido alvo recorrente da equipe governamental, começou a ser discutido em 2017 e estabeleceu diretrizes para o acolhimento de imigrantes. Os países signatários, entre eles o Brasil, se comprometeram a dar uma resposta coordenada aos fluxos migratórios, a colaborar para que a garantia de direitos humanos não seja atrelada a nacionalidades, e a adotar restrições à imigração somente como último recurso. O acordo global foi celebrado em 10 de dezembro de 2018. Nove dias depois, a Assembleia Geral da ONU se posicionaria favoravelmente aos seus termos por ampla maioria: 152 foram favoráveis ao endosso da instância, 24 não se posicionaram, 12 se abstiveram e cinco foram contrários. O último bloco foi formado por Estados Unidos, Hungria, Israel, República Tcheca e Polônia, todos países governados por conservadores. Antes mesmo da posse, Ernesto Araújo, agora chanceler, afirmou que o Brasil deixaria o Pacto sob o novo governo.

Promessa

Este foi mais um caso em que, já empossado, Bolsonaro prometeu ao secretário Pompeo que mudaria o posicionamento do país em relação ao tema. O enfraquecimento simbólico do Pacto interessa ao governo de Donald Trump, que tem como uma das propostas a construção de um muro na fronteira com o México. Estima-se que 258 milhões de pessoas vivam atualmente em um país diferente do seu país de nascimento – um aumento de 49% desde 2000 –, de acordo com números divulgados pelas Nações Unidas no mês passado. Ainda é possível, também, que Bolsonaro mude de ideia, uma vez que o número de brasileiros na condição de imigrante é muito superior ao volume de pedidos para o ingresso no país.
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