Rio de Janeiro, 16 de Dezembro de 2025

PF faz operação no Rio, prende desembargador e investiga Bacellar

Operação Unha e Carne da PF resulta na prisão de desembargador e investigações sobre deputado Bacellar, com foco em vazamentos de informações sigilosas.

Terça, 16 de Dezembro de 2025 às 09:37, por: CdB

Nova etapa da operação autorizada pelo STF cumpriu 10 mandados de busca e apreensão, faz diligências em dois estados e mantém deputado licenciado na mira da PF; magistrado preso foi responsável pelo caso TH Joias.

Por Redação, com Agenda do Poder – do Rio de Janeiro

O desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, integrante do Tribunal Regional Federal da Segunda Região (TRFII), foi preso nesta terça-feira pela Polícia Federal durante a segunda fase da Operação Unha e Carne. A investigação apura o vazamento de informações sigilosas relacionadas à Operação Zargun, deflagrada em setembro, que mirou integrantes de uma organização criminosa com atuação no Rio de Janeiro.

PF faz operação no Rio, prende desembargador e investiga Bacellar | Rodrigo Bacellar e o desembargador Macário Ramos Júdice Neto
Rodrigo Bacellar e o desembargador Macário Ramos Júdice Neto

Macário foi preso em casa, na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste do Rio. A ação faz parte do cumprimento de um mandado de prisão e 10 mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Além do Rio, há diligências sendo realizadas no Espírito Santo.

Ligação com a Operação Zargun

Macário Ramos Júdice Neto foi o magistrado responsável por expedir, em setembro, o mandado de prisão do então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Joias, no âmbito da Operação Zargun. A investigação agora busca esclarecer se houve vazamento de informações judiciais sigilosas que comprometeram o cumprimento das ordens judiciais.

A Polícia Federal não divulgou detalhes sobre o conteúdo apreendido nem sobre o papel específico atribuído ao desembargador no esquema investigado. O caso segue sob sigilo judicial.

Bacellar volta a ser alvo

A segunda fase da Operação Unha e Carne também voltou a atingir o deputado estadual licenciado Rodrigo Bacellar (União Brasil). Ele é alvo de mandados de busca e apreensão nesta terça-feira, após já ter sido preso na primeira etapa da investigação.

Bacellar havia sido solto posteriormente por decisão do plenário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), mas permanece no centro das apurações conduzidas pela Polícia Federal sob a supervisão do STF.

Como a operação teve início

A Operação Unha e Carne ganhou repercussão no dia 3 deste mês, quando Rodrigo Bacellar, então presidente da Alerj, foi “convidado” para “uma reunião” com o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, Fábio Galvão. Ao chegar ao local, ele recebeu voz de prisão e teve o celular apreendido. No carro do parlamentar, os agentes encontraram R$ 90 mil em espécie.

De acordo com a Polícia Federal, Bacellar é suspeito de ter vazado informações sigilosas da Operação Zargun, que resultou na prisão de TH Joias.

Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, foi preso por tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro, suspeito de negociar armas para o Comando Vermelho (CV). Ele assumiu o mandato em junho, mas deixou de ser deputado após sua prisão.

Decisão do STF e indícios apontados

O mandado de prisão contra Bacellar foi expedido pelo ministro Alexandre de Moraes, que também determinou seu afastamento da presidência da Alerj. Na decisão, o ministro afirmou haver “fortes indícios” da participação do parlamentar em uma organização criminosa.

Segundo trecho da decisão, Bacellar estaria atuando ativamente pela “obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo Estadual”.

– Os fatos narrados pela Polícia Federal são gravíssimos, indicando que Rodrigo Bacellar estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual, capazes de potencializar o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações da organização criminosa – escreveu Moraes.

Suspeita de vazamento e alerta prévio

A suspeita de vazamento surgiu no próprio dia da Operação Zargun. O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, afirmou que houve dificuldades para localizar TH Joias durante o cumprimento dos mandados.

– O parlamentar havia saído do condomínio por volta das 21h40 [do último dia 2, véspera da operação], deixando a casa completamente desarrumada, o que pode sugerir uma fuga e o desfazimento de vestígios de fatos criminosos – declarou.

TH Joias não estava em casa quando as equipes chegaram e foi localizado apenas horas depois na residência de um amigo, também na Barra da Tijuca.

A Operação Unha e Carne segue em andamento no Supremo Tribunal Federal, e novas medidas não estão descartadas à medida que o material apreendido seja analisado.

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