"O povo é contra o governo Bolsonaro pelo conjunto de sua obra e não só pelo desastre econômico que vivemos. Também pela alienação total da realidade da equipe econômica e do Banco Central, que na contramão do mundo persistem numa política de juros altos para conter a inflação, levando o país a uma estagflação", escreveu o ex-ministro José Dirceu.
Por Redação - de São Paulo
Analista político com uma visão privilegiada dos fatos, o ex-ministro, advogado e agora articulista de um site de notícias, de centro-direita, José Dirceu aposta que o presidente Jair Bolsonaro (PL) será derrotado nas urnas de forma efetiva, sem chance de um golpe militar.
"Nada indica que Jair Bolsonaro (PL) vença a eleição em outubro. Ao contrário, as pesquisas nos informam que inclusive ela pode ser decidida no primeiro turno", escreve, em artigo no site Poder 360. "O povo é contra o governo Bolsonaro pelo conjunto de sua obra e não só pelo desastre econômico que vivemos. Também pela alienação total da realidade da equipe econômica e do Banco Central, que na contramão do mundo persistem numa política de juros altos para conter a inflação, levando o país a uma estagflação. O agravamento da situação social pelo desemprego, queda de renda e custo de vida altíssimo tiram qualquer possibilidade de uma reação eleitoral do governo e seu candidato", acrescenta.
Para Dirceu um possível golpe não passa de uma possibilidade remota.
Bolívia
"Não haverá intervenção militar pelo simples fato de que a maioria da sociedade, inclusive das elites, sabe das consequências de um golpe e já tem a experiência da ditadura militar. E, agora, a experiência, também nada edificante, da participação de muitos militares no núcleo do governo. Ao contrário de serem exemplo de eficiência, acabaram, vários deles, por comprometer a imagem das Forças Armadas. Outro motivo pelo qual não haverá golpe é a falta de apoio internacional a um evento deste tipo, o que não quer dizer que não haja apoio a um candidato da direita ou mesmo a Bolsonaro em nível internacional", afirma.
"Além disso, um golpe pode ser derrotado mais cedo ou mais tarde, como a história recente comprova aqui na nossa vizinha Bolívia. As consequências podem ser fatais para aqueles que violam a Constituição e podem significar uma nova fase de mudanças estruturais no Brasil. Basta lembrar que a Constituição de 1988 é filha da derrota da ditadura militar. Na prática, Bolsonaro e sua camarilha querem, pelo medo, convencer uma parcela do eleitorado popular de que, se ele não ganhar, haverá golpe na vã ilusão de que assim votarão nele", pontua o ex-ministro.
Segundo o ex-ministro, "na prática, Bolsonaro e sua camarilha querem, pelo medo, convencer uma parcela do eleitorado popular de que, se ele não ganhar, haverá golpe na vã ilusão de que assim votarão nele”.
“A correção da política de alianças da candidatura Lula e sua força ao reunir sete partidos – a federação PT-PCdoB-PV, o PSB, o Solidariedade e a federação PSOL-Rede e ganhar apoios no MDB e PSD, particularmente Alckmin (PSB) como vice – precisa ser agora acrescida, para além dos palanques Estaduais, com um amplo movimento suprapartidário ‘Lula Presidente’. Precisamos de uma campanha de mobilização popular de organização de comitês de luta, apoiada num programa que dê resposta exatamente aos anseios da maioria do eleitorado popular. Eleitorado este, que é razão de ser de nossa luta histórica, democrática e de reconstrução do Estado Nacional e de bem estar social” instrui o militante petista.
Fim do golpe
Em linha com o ex-colega de ministério, durante as gestões petistas, o ex-ministro do Planejamento e da Fazenda Nelson Barbosa lembra que “o golpe de 1964 durou 21 anos. O golpe de 2016 completou seis anos nesta quinta-feira. Sei que alguns analistas ainda acham que o afastamento de Dilma foi ‘jogo duro constitucional’, mas o mesmo contorcionismo ideológico aconteceu imediatamente após 1964, por vários veículos de imprensa, que depois (muito depois) reconheceram o erro", escreveu, em artigo publicado nesta sexta-feira no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo (FSP).
Prevendo que a fase pós-golpe seja encerrada em outubro deste ano, com a eleição do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva, Barbosa espera “que o golpe de 2016 não dure tanto quanto o de 1964”.
“O fracasso econômico e social de Temer e Bolsonaro pode encurtar o processo. A confirmação, pelo STF e pela ONU, de que a Operação Lava Jato cometeu ilegalidades contra Lula também ajuda a encurtar a distopia, mas há muitas ameaças no ar. Em 2018, com a prisão irregular de Lula, tivemos eleições censuradas. Neste ano, para garantir eleições livres e mudar de governo, sugiro votar em quem sempre defendeu a democracia, não só agora mas sobretudo nos anos pesados de 2016 e 2018.", concluiu.