Cancelar dívidas externas, aumentar a ajuda e melhorar o comércio não será suficiente para tirar a África da pobreza, disse na terça-feira Wangari Maathai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2004.
Segundo Maathai, os africanos precisam continuar lutando para ter governos responsáveis, para acabar com a corrupção e para ter um sistema educacional que lhes ofereça mais que apenas os níveis básicos de educação.
- Precisamos continuar a remover os obstáculos e as causas da pobreza nos aproximando das raízes das causas - afirmou Maathai, em uma entrevista concedida à Reuters durante uma cúpula da União Africana (UA), realizada na Líbia.
- Não há motivo pelo qual não possamos elevar nosso padrão de consciência para um nível em que possamos dizer ser inaceitável que um ditador na África roube dinheiro de seu povo e leve esse dinheiro para um país como a Grã-Bretanha, onde o dinheiro fica protegido.
Maathai ganhou o Nobel da Paz por suas campanhas de proteção às florestas africanas e por seu desejo de colocar fim à corrupção, uma das causas do desmatamento.
A ativista disse esperar que as pessoas presentes nos shows do Live 8, realizados no final de semana com o intuito de pressionar os países ricos a cancelar as dívidas dos países africanos, percebessem que alguns bancos dos países ricos, entre os quais bancos britânicos, guardavam o dinheiro roubado por ditadores da África.
Líderes do G8 (grupo que reúne os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia) vão se reunir nesta semana na Escócia para discutir, entre outros assuntos, o combate à miséria no continente africano.
Os líderes da UA reunidos em Sirte, na Líbia, pediram ao G8 que cancele as dívidas públicas de seus países, mude as regras do comércio mundial e intensifique o combate à pobreza no continente.
Mais de 40 por cento dos africanos vivem com menos de 1 dólar por dia, enquanto 200 milhões de habitantes do continente enfrentam atualmente uma grave falta de alimentos. A Aids mata mais de 2 milhões de africanos todos os anos.
Os ativistas anti-pobreza dizem que os líderes do G8 têm uma chance única para evitar que 30.000 crianças morram por dia devido à extrema pobreza ao dobrar a ajuda para países pobres.
Maathai pediu também o cancelamento de todas as dívidas públicas, mas advertiu que a medida por si só não solucionaria os problemas da África.
- O cancelamento das dívidas não é uma panacéia. Ter um governo responsável é uma peça importante do quebra-cabeça e a qualidade dos governos melhorou na África. Estamos caminhando na direção certa - afirmou.
A ativista acrescentou ainda que oferecer condições favoráveis de comércio era algo essencial para incentivar o crescimento das economias africanas, em especial no setor agrícola.