É certo que há fatores externos, que pesam tanto mais quanto vulnerável é a nossa economia. Sobretudo em tempo de crise global.
Por Luciano Siqueira - de Brasília
Mas o fato é que há um déficit da balança comercial da indústria de transformação que aumenta desde o ano passado.
O Valor Econômico cita dados de estudo realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que indicam um saldo negativo de US$ 3,22 bilhões em 2017 e de US$ 25,6 bilhões em 2018.
Um salto no mínimo preocupante.
E a perspectiva não é boa, sob o governo do capitão Bolsonaro. Uma das linhas de ação do atual superministério da Economia é justamente maior abertura aos produtos estrangeiros, com medidas como a redução das alíquotas de importação.
Hoje, produtos industrializados manufaturados e semimanufaturados concorrem com apenas 48% de nossas exportações, um significativo recuo em relação a 2007, por exemplo, quando correspondia a 65,8% (com saldo positivo, então, de US$ 18,93 bilhões).
Sinais clínicos de uma doença estrutural, vinculada essencialmente ao tipo de capitalismo que aqui historicamente se desenvolve: tardio, destorcido, desigual e dependente.
Nos anos recentes, desde Collor e Fernando Henrique, acentuou-se um modelo marcado pelo enfraquecimento do Estado nacional, transferência de segmentos estratégicos ao capital privado interno e estrangeiro, finaceirização excessiva. Ao rentismo, tudo!
No ciclo Lula-Dilma, apesar da adoção de uma Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce), a partir 2004, os efeitos limitados. Fez parte da resistência do “velho”, que havia perdido as eleições de 2002, ao “novo”, vitorioso, que procurava se afirmar, minar essa política em suas raízes.
Demais, uma série de medidas legais dependentes do Legislativo não pode se concretizar a contento e em tempo hábil em razão da correlação de forças existente no Congresso. Mesmo quando em maioria numérica, o governo não contou com apoio consistente para transformações de caráter estrutural.
Agora, com a onda regressiva vigente, maiores dificuldades enfrentará a indústria brasileira.
E na agenda da resistência democrática e da luta pela retomada do desenvolvimento em bases soberanas, este é um item indispensável – seja pelo seu peso específico num projeto de desenvolvimento nacional, seja como elemento de ampliação da coalizão de forças oposicionistas.
Luciano Siqueira, é médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.
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