A líder conservadora Angela Merkel se tornará a primeira chanceler (premiê) da Alemanha, segundo um acordo que prevê a saída de Gerhard Schroeder, mas que dá ao Partido Social Democrata (SPD) cargos importantes no novo governo, disseram fontes nesta segunda-feira. Três semanas depois que os eleitores deram aos conservadores de Merkel uma vitória inesperada, e por pequena margem, sobre o SPD de Schroeder na eleição federal, fontes de ambos os partidos disseram que chegaram a um acordo que abrirá espaço a um gabinete compartilhado para romper o impasse político alemão.
De acordo com uma fonte importante do SPD, o partido ficará com os ministérios do Exterior, das Finanças, da Justiça e do Trabalho no novo governo liderado por Merkel, de 51 anos, filha de um pastor que cresceu na antiga Alemanha comunista. Isso dará ao partido de Schroeder uma função importante na formação do orçamento e da política trabalhista, bem como influência na política exterior.
Os Democratas Cristãos (CDU), de Merkel, e seus aliados da União Social Cristã (CSU) vão ficar com as pastas da Economia, do Interior e da Defesa. O atual ministro da Economia, Wolfgang Clement, disse que o chefe do CSU e premiê do estado da Bavária, Edmund Stoiber, será seu substituto no cargo, deixando o CDU de Merkel com poucos ministérios importantes.
- Em troca da chancelaria, os conservadores terão de comprometer pessoal. É improvável que políticos com orientação de reforma tenham muito peso no novo governo - disse Andreas Rees, economista do Grupo HVB em Munique.
Concessões
As duras negociações entre as principais forças de centro-esquerda e de centro-direita da Alemanha começaram depois da eleição de 18 de setembro, na qual não houve votos suficientes para a formação de alianças com os parceiros preferidos de cada lado. Depois da votação, o SPD de Schroeder negou-se de início a abrir mão da chancelaria. O acordo deve romper o impasse, abrindo caminho para a formação da segunda "grande coalizão" desde a Segunda Guerra Mundial. As negociações devem continuar até novembro.
Ao garantir muitos ministérios importantes em troca do sacrifício de Schroeder, de 61 anos, o SPD deverá forçar concessões de Merkel na política econômica, resultando numa diluição da agenda de reformas que ela divulgou durante a campanha. Merkel defendeu o relaxamento das leis de demissão, o corte de custos da folha salarial e mudanças nas negociações trabalhistas para impulsionar o crescimento e criar empregos.
O Produto Interno Bruto alemão deverá crescer apenas 1 por cento neste ano, uma das taxas mais baixas entre os 25 países da União Européia. O desemprego atingiu em fevereiro o nível mais alto do pós-guerra, com 5,2 milhões de pessoas sem trabalho, ou 12,6 por cento da população economicamente ativa.
- O mandato provavelmente não será de reformas tão fortes quanto seriam, se houvesse uma vitória clara de Merkel - disse Ian Stannard, estrategista exterior sênior do BNP Paribas.
Mas, em algumas áreas, a grande coalizão pode ter sucesso com reformas. Há um acordo entre os dois partidos para reformar a estrutura federal da Alemanha e atacar os problemas de orçamento. Os mercados pouco reagiram com as notícias. O índice Dax de ações registrou alta de 0,8%. O euro e os títulos se mantiveram estáveis.
A maior diferença da política externa entre os dois partidos é em relação à Turquia. O SPD de Schroeder apoiava a adesão de Ancara à UE, mas o CDU defende uma "parceria privilegiada". Merkel prometeu também melhorar o relacionamento com Washington, abalado pela oposição verbal de Schroeder à guerra no Iraque, e adotar uma postura mais imparcial em relação a França e Rússia, com quem Schroeder estabeleceu relações próximas.