Rio de Janeiro, 08 de Dezembro de 2025

Papa Leão XIV afirma que IA deve servir à sociedade, não às elites

Em discurso no Vaticano, Papa Leão XIV defende que a inteligência artificial deve beneficiar a sociedade e não as elites, destacando a importância da ética e da educação para jovens.

Segunda, 08 de Dezembro de 2025 às 14:30, por: CdB

Líder da Igreja Católica cobra responsabilidade ética e atenção especial ao desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Por Redação, com OESP – da Cidade do Vaticano

O papa Leão XIV dedicou seu discurso da última sexta-feira, no Vaticano, aos impactos da inteligência artificial sobre a vida contemporânea, enfatizando que a tecnologia deve servir ao bem comum e não a interesses de uma minoria poderosa. A fala foi dirigida a representantes da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice e da aliança acadêmica SACRU, reunidos em Roma para discutir os desafios éticos da IA.

Papa Leão XIV afirma que IA deve servir à sociedade, não às elites | Papa Leão XIV critica uso da IA em benefício dos poderosos
Papa Leão XIV critica uso da IA em benefício dos poderosos

Logo no início, o pontífice chamou atenção para o fato de que sistemas inteligentes começam a influenciar aspectos essenciais da experiência humana, interferindo em “pensamento crítico, discernimento, aprendizado e relações interpessoais”. Segundo ele, esses efeitos já moldam o cotidiano “de milhões de pessoas, todos os dias e em todas as partes do mundo”.

Leão XIV questionou de maneira direta o modelo atual de desenvolvimento tecnológico. “Como podemos garantir que o desenvolvimento da inteligência artificial realmente sirva ao bem comum e não seja apenas usado para acumular riqueza e poder nas mãos de poucos?”, afirmou, defendendo que o debate ético seja ampliado e democratizado. Ele reforçou que essa discussão passa, necessariamente, por refletir sobre “o que significa ser humano neste momento da história”.

Para o papa, essa reflexão exige reconhecer o papel ativo das pessoas diante das transformações em curso. Ser humano, disse, não é adotar postura passiva diante de conteúdos produzidos por máquinas, mas assumir o chamado a ser “colaboradores na obra da criação”. Ele lembrou que “nossa dignidade está na capacidade de refletir, escolher livremente, amar sem condições e construir relações autênticas”.

Os riscos da IA, segundo o pontífice, também envolvem a possibilidade de enfraquecimento da capacidade humana de buscar sentido, beleza e contemplação. Embora reconheça que a tecnologia abre “novos horizontes de criatividade”, Leão XIV alertou para possíveis impactos na “abertura à verdade e à beleza” e na habilidade de se maravilhar diante do mundo.

Um dos pontos mais sensíveis do discurso foi a preocupação com crianças e adolescentes, especialmente quanto à influência da tecnologia sobre sua formação integral. Ele pediu atenção “à liberdade e à vida interior” dos mais jovens e destacou possíveis efeitos sobre o desenvolvimento intelectual e neurológico. Para o papa, essa vigilância é fundamental para que avancem “no caminho da maturidade e responsabilidade”.

– A capacidade de acessar vastas quantidades de dados e informações não deve ser confundida com a capacidade de extrair delas significado e valor – alertou o pontífice. Segundo ele, interpretar o mundo requer disposição para enfrentar “as questões centrais da existência.”

Educar jovens

O pontífice reforçou que educar jovens para a era da IA significa capacitá-los a utilizar essas ferramentas sem abrir mão da própria inteligência, de seus sonhos e de um horizonte de escolhas mais amplo. “Será essencial ensinar os jovens a usar essas ferramentas com a própria inteligência, garantindo que se abram à busca da verdade, a uma vida espiritual e fraterna, ampliando seus sonhos e os horizontes de suas decisões”, disse.

O encontro em Roma também marcou o lançamento de um livro produzido por pesquisadores da Centesimus Annus e da SACRU, que reúne análises sobre o impacto da IA em áreas como negócios, finanças, educação e comunicação. O papa elogiou a iniciativa, afirmando que “a pesquisa realizada representa uma contribuição realmente valiosa”, sobretudo porque respostas eficazes exigem ação coordenada entre governos, instituições, empresas, universidades, comunidades religiosas e a sociedade.

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