Em 2023, mais de 400 mil pessoas se arriscaram na perigosa selva de Darién para cruzar o país na tentativa de chegar à fronteira entre México e Estados Unidos. Número é 62% superior ao total registrado em 2022.
Por Redação, com DW - de Washington
Mais de 400 mil pessoas atravessaram neste ano a selva de Darién, no Panamá, rumo à fronteira entre o México e os Estados Unidos, informou na quinta-feira o Ministério panamenho da Segurança Pública.
"Até setembro deste ano a cifra de migrantes irregulares chegou a 402.030 pessoas", informou a pasta em nota, acrescentando que mais da metade dessas pessoas eram menores de idade e bebês de colo.
O número recorde é 62% superior a todo o ano de 2022, quando 248 mil pessoas fizeram a perigosa travessia. Uma estimativa da ONU divulgada em abril calculava um total de 400 mil imigrantes em todo o ano de 2023.
Segundo o ministério, as chegadas diárias ao país através da fronteira com a Colômbia chegaram a ser de 4 mil pessoas. Os imigrantes são, na maioria, cidadãos de Venezuela, Haiti, Equador e Colômbia, além de chineses e afegãos.
A fronteira natural de Darién, de 266 quilômetros de extensão e 575 mil hectares de superfície, se converteu em um corredor migratório para as pessoas que tentam chegar aos Estados Unidos desde a América do Sul, através da América Central e do México.
"Esforço sobre-humano"
A crise migratória levou o governo panamenho a instalar centros de cuidados aos imigrantes em parceria com organizações internacionais em diferentes pontos do país de 4,2 milhões de habitantes.
O ministro da Segurança Pública do Panamá, Juan Pino, alertou na quinta-feira que a capacidade do Panamá de atender os imigrantes já está superada. "Estamos fazendo um esforço sobre-humano", disse.
Para tentar conter a onda migratória, as autoridades panamenhas anunciaram no dia 9 de setembro uma série de medidas, como o aumento das deportações das pessoas que entrarem ilegalmente no país.
Os governos dos EUA, Panamá e Colômbia lançaram em maio uma estratégia de dois meses de duração para tentar conter o fluxo de imigrantes ilegais. Em maio, Washington anunciou novas políticas que incluíam a deportação das pessoas em situação irregular e a proibição da reentrada no país por um período de cinco anos.
Como resultado, as travessias de fronteira diminuiram inicialmente em até 70%, mas o aumento recente na chegada de migrantes à fronteira americana sugere que essa estratégia deixou de surtir efeito.
Perigos da selva de Darién
A crise migratória levou o governo da Costa Rica, outro país de trânsito na América Central, a declarar estado de emergência nesta semana. O presidente panamenho, Laurentino Cortizo, se reunirá com seu homólogo costa-riquenho, Rodrigo Chaves, nos dias 5 e 6 de outubro para discutir a situação.
Margarida Loureiro, do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) no Panamá, alertou recentemente para o fato de que nas redes sociais, a selva de Darién é muitas vezes mostrada como uma rota simples, o que certamente não é o caso. Até hoje, não existem rodovias na região, por exemplo.
– Darién é uma selva, é perigosa, há também grupos criminosos lá dentro, que estupram, matam e roubam – explicou. Um terço das pessoas que atravessaram o local em agosto de 2023 relataram ter sido vítimas de abuso, maus-tratos, roubo ou fraude.
– Estamos falando de 31% de 82 mil pessoas. Elas perderam tudo, documentos, telefones celulares, todos os recursos econômicos. Há muitas mulheres que foram estupradas, há pessoas que morreram – disse Loureiro.
Ela afirmou que muitas pessoas também são afetadas psicologicamente pela experiência traumática de ver corpos pela estrada, Não há, no entanto, estimativas concretas de quantas pessoas perderam a vida durante a viagem.
Alguns imigrantes cubanos e africanos disseram ter realizado viagens aéreas para a Nicarágua no intuito de evitar os perigos da selva de Darién em suas trajetórias rumo à fronteira dos EUA.