O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta debelar mais uma crise que se inicia em seu governo. Os desentendimentos entre a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e a equipe econômica alcançam temperaturas que fizeram o presidente mudar sua agenda. Nesta quinta-feira, ele cancelou a viagem que faria na sexta-feira a Mucuri, na Bahia, e a São Mateus, no Espírito Santo, alegando que o contato com movimentos sociais não estava previsto. Mas outro compromisso não agendado com a antecedência protocolar foi a reunião, nas primeiras horas da manhã, na Granja do Torto, para o café da manhã, foi a reunião com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, além do presidente do PT, Ricardo Berzoini.
- O presidente preferiu adiar a viagem, provavelmente para semana que vem, para também diálogo com os movimentos sociais ao ir à região, o que não estava previsto - informou a Secretaria de Imprensa da Presidência. Lula visitaria uma fábrica de celulose da Suzano em Mucuri e uma unidade da Petrobras em São Mateus.
O início dos desentendimentos foi uma entrevista da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, na qual critica os ministros Palocci e Paulo Bernardo, do Planejamento. Ainda na noite desta quarta, o ministro Palocci teria reclamado ao presidente Lula das críticas lançadas por Dilma Rousseff. Palocci teria, inclusive, cogitado deixar o cargo, dizendo-se cansado de precisar gerir a crise política e os rumos da economia.
- Tudo o que ele não precisava agora era ouvir críticas de dentro do próprio governo - disse um observador próximo aos fatos.
Palocci chegou a conversar com a ministra e lhe falou sobre as conseqüências de sua entrevita ao jornal Estado de S. Paulo. Para o ministro da Fazenda, a hora não poderia ser pior para os ataques, pois ele tenta se defender da oposição, que o quer sentado no banco dos depoentes em uma das CPIs em curso no Congresso.
Ainda segundo apurou o Correio do Brasil, o presidente Lula teria comentado com a ministra Dilma Roussef sobre a inconveniência de suas observações, em um tom mais ríspido, sobre a posição dos ministros Bernardo e Palocci quanto ao andamento da economia. A ministra é favorável a um nível maior de investimento por parte do governo em projetos de alcance social, enquanto os representantes da equipe econômica pregam um equilíbrio fiscal mais longo, o que retrairia os avanços nas demais áreas do governo. A crença do presidente é de que a presença de Palocci, neste momento político, é vital para o seu governo.
A ministra que substituiu o deputado José Dirceu na Casa Civil, na entrevista ao diário paulista, disse que a proposta de ajuste fiscal de longo prazo, apresentada por Palocci é "rudimentar", acrescentando que o país deveria reduzir os juros "para sair do atoleiro". Para a ministra, a política monetária de juros altos reduz o efeito da política fiscal, além de não diminuir significativamente a dívida pública.
Nesta quinta-feira, a ministra explicou que não fez uma crítica direta ao ministro, mas que considerou "incipiente" o ajuste fiscal de longo prazo. Ela também comentou uma entrevista do ministro Paulo Bernardo, nesta quarta, na qual havia dito não estar aborrecido pela críticas de Dilma Roussef.