Os territórios palestinos estão perto de mergulhar em um estado de guerra civil e bastará um ato de violência, como o assassinato de uma autoridade, para detonar uma situação totalmente caótica, afirmou na terça-feira um grupo de pesquisas.
O Grupo Crise Internacional (ICG, na sigla em inglês) também disse que a determinação do presidente Mahmoud Abbas em realizar um referendo no dia 26 de julho, sobre uma proposta que reconhece implicitamente Israel, pode detonar mais conflitos com o grupo militante Hamas, atualmente no poder.
Abbas e o governo do Hamas travam uma dura batalha pelo poder desde que o grupo islâmico tomou posse em março, depois de vencer a facção Fatah, ligada ao presidente, nas eleições de janeiro.
- Hoje a situação está a apenas um passo trágico do caos total. Bastará o assassinato, por exemplo, de um importante líder da Fatah ou do Hamas - afirmou o ICG em um comunicado.
Na mais recente onda de violência interna, homens da Fatah atearam fogo ao escritório do primeiro-ministro palestino, Ismail Haniyeh (um dirigente do Hamas), na Cisjordânia. Só no último mês, cerca de 20 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza.
Segundo o relatório, a vitória do Hamas nas eleições e a reação da Fatah, que dominou o cenário político palestino por décadas, alimentam o caos e levam os palestinos para "perto de uma guerra civil".
- Na sangrenta e cada vez mais acirrada luta pelo poder, os dois lados estão mobilizando milícias armadas, estocando armas, recorrendo a assassinatos e provocando tumultos - disse o relatório.
O referendo de Abbas encontra-se no centro das tensões. O Hamas considera a votação uma tentativa de golpe. A proposta dos prisioneiros palestinos, na qual o referendo é baseado, prevê a criação de um Estado palestino em toda a Cisjordânia e na Faixa de Gaza, reconhecendo implicitamente a existência de Israel.
O relatório do ICG também diz que os palestinos deparam-se com um dos ambientes internacionais mais hostis de sua história. Estados Unidos, União Européia (UE) e Israel cortaram o envio de ajuda e a transferência de impostos para o governo palestino depois da recusa do Hamas em reconhecer o Estado judaico, renunciar às armas e aceitar os acordos de paz já firmados. Isso tem impedido a Autoridade Palestina de pagar os salários de seus funcionários e de prover serviços básicos para a população dos territórios.
O Hamas defende a destruição de Israel e, na sexta-feira passada, colocou fim a uma trégua de 16 meses com o Estado judaico.
O relatório do ICG também criticou a política do quarteto de mediadores para o Oriente Médio, que deseja encontrar uma forma de dar apoio a Abbas, o que alimentaria os conflitos internos. O quarteto - formado pelos EUA, UE, Rússia e Organização das Nações Unidas (ONU) -elabora um mecanismo de ajuda capaz de atender aos palestinos sem que as verbas passem pelas mãos do governo do Hamas.
O quarteto e outros integrantes da comunidade internacional apostam que as sanções internacionais e o descontentamento dos palestinos com a crise econômica acabarão determinando a queda do atual governo, disse o grupo de pesquisa.
Mas, se o governo cair, o Hamas não ficará em silêncio, acrescentou.
- O Hamas deve, quase com certeza, recorrer à violência interna e a atos de violência contra Israel, provocando o máximo de caos possível -disse.