Rio de Janeiro, 15 de Junho de 2025

Os clarins de Momo se aproximam

Por Luciano Siqueira - No Recife, em Olinda, nas demais cidades litorâneas e do interior, o pernambucano cai no frevo ou se deixa envolver pelo batuque eletrizante do maracatu, livre e espontaneamente, nas praças e nas ruas.

Sexta, 24 de Janeiro de 2025 às 09:32, por: CdB

No Recife, em Olinda, nas demais cidades litorâneas e do interior, o pernambucano cai no frevo ou se deixa envolver pelo batuque eletrizante do maracatu, livre e espontaneamente, nas praças e nas ruas.

Por Luciano Siqueira – de Brasília

Este ano será em março. Mas já está na pauta de muita gente.

Antigamente o carnaval se iniciava aos sábados. Era o sábado de Zé Pereira.

frevo_recife.jpeg
Antigamente o carnaval se iniciava aos sábados. Era o sábado de Zé Pereira

Hoje, em muitos lugares, como no Recife e em Olinda, desde o início de janeiro a folia ocupa as ruas e invade os salões, em prévias animadas e concorridas. De modo que as quintas feiras de agora já projetam a última quinta, pós-quarta-feira de cinzas, também será de carnaval, já que, cá na província, a festança irá mesmo até o domingo subsequente.

Continue lendo

Não há, no Brasil, um carnaval único, homogêneo, uniforme. Há carnavais. Distintos na duração, na intensidade com que arrebatam multidões, na variedade de ritmos e cores, no caráter mais ou menos democrático.

O carnaval de Pernambuco é ímpar. A começar pela tradição, palmilhada por uma história guerreira. Pois foi com muita luta que os pernambucanos, recifenses em particular, conquistaram o direito de ganhar as ruas e fazer a folia, conforme nos informa, dentre outros, a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco Rita de Cássia Barbosa de Araújo, autora do belíssimo artigo “Carnaval do Recife: a alegria guerreira” (revista Estudos Avançados – USP, abril de 1997).

No final do século XIX e início do séculoXX, só às elites era reservado esse direito, que desfilava suas alegorias e clubes de máscaras, cabendo à ralé apenas o papel de espectadora.

Foi enfrentando proibição legal e muita repressão policial que os trabalhadores, a gente pobre da cidade, literalmente abriram alas e puderam brincar.

Daí a natural associação entre diversas agremiações carnavalescas e a categoria profissional dos seus integrantes, revelando traços de união entre a luta por direitos corporativos e a pugna pela liberdade de participar dos folguedos. Vassourinhas, Pás Douradas, Lavadeiras, Lenhadores e tantos outros surgiram dessa simbiose lúdico-combativa.

Provavelmente aí se encontram as raízes do caráter absolutamente democrático do carnaval que aqui se realiza.

Olinda

No Recife, em Olinda, nas demais cidades litorâneas e do interior, o pernambucano cai no frevo ou se deixa envolver pelo batuque eletrizante do maracatu, livre e espontaneamente, nas praças e nas ruas. Não precisa pagar.

Aqui certamente não vingaria um carnaval argentário como o do Rio de Janeiro, realizado no Sambódromo, do qual a parcela mais pobre do povo foi afastada (como se queixou certa vez Oscar Niemeyer em entrevista ao Jornal do Brasil) pela discriminação econômica. Nem se poderia imaginar o Elefante de Olinda ou Pitombeira dos Quatro Cantos protegidos por cordões de isolamento e impondo a compra daquela espécie de bata que se vê em Salvador.

A massa “freveria” de novo e iria à guerra pelo sagrado direito de viver suas fantasias, dores, sonhos, amores, tristezas, esperanças e alegrias no ambiente de liberdade conquistado há mais de um século.

 

Luciano Siqueira, é médico, membro do Comitê Central do PCdoB e secretário nacional de Relações Institucionais, Gestão e Políticas Públicas do partido, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo