Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Opa, o ministro destoou!

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Segunda, 23 de Junho de 2014 às 13:53, por: CdB
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Ministro Gilberto Carvalho tem razão: mesmo dentro da esquerda existe insatisfação
Meus companheiros precisam ser menos autoritários. Não se pode condenar o clima de pensamento único no qual vivemos e, sofrendo da mesma doença, se criticar o ministro secretário da Presidência da República por ter tido a coragem de dizer a verdade: que o rei está nu. O ministro Gilberto Carvalho de repente ganhou espaço na grande imprensa e lhe torceram o nariz na nossa imprensa nanica de esquerda. A intolerância mudou de campo ? Ora, mesmo para quem vive longe, o ministro apenas disse óbvios e pior cego são os que não querem ver. Seria por isso também, que minha primeira coluna, « Como Dilma perdeu a Copa », neste novo Direto da Redação, deixou de circular nos blogs de centro-esquerda, por ousar colocar com todas as letras as insatisfações do pessoal de esquerda, do qual faço parte, por algumas decepções com o governo ? Por que tapar o sol com peneira e culpar sempre a grande imprensa por falhas próprias ? Gilberto Carvalho tem toda razão ao dizer que essa reeleição de Dilma vai ser difícil e, desde junho do ano passado, quando se acenderam as luzinhas vermelhas, pouco ou nada se fez para reparar. Ninguém entendeu porquê o governo apoiava e dava toda força à Globo e grande imprensa, com verbas e publicidades (Helena Chagas pode contar melhor que eu) como se pensasse que acalentando a cascavel iria sensibilizá-la e convertê-la em amiga e evitar a picada venenosa. O resultado está aí e não somos eu ou o Gilberto Carvalho os culpados – apenas constatamos, porque ficar de costas e ignorar que « água mole em pedra dura tanto bate até que fura » só pode piorar a situação. Vou falar, por exemplo, de um setor que conheço muito bem, por ter sido mesmo eleito duas vezes por emigrantes, como representante. Hoje, com a política do Itamaraty de forçar ter título de eleitor para renovar o documento de viagem, o passaporte, existem mais de meio-milhão de emigrantes eleitores. Forçaram esse pessoal a ter título para votar no Exterior, mas só podem votar para presidente, e a grande parte ainda ter de pagar trem, ônibus ou avião para ir votar. Ou simplesmente invocar a justificativa para não ir votar por morar onde não tem Consulado. Ora, como a reeleição de Dilma vai ser difícil, esse meio-milhão de emigrantes eleitores podem ser decisivos e deveriam ser paparicados para se interessarem pelo pleito. Fizeram isso? Não. Deixaram o Itamaraty assumir o controle da política da emigração e, a pretexto de um conselho participativo de cidadania, bonito na teoria mas não na prática, tudo depende e está nas mãos dos consulados locais e dos lobbys de despachantes e advogados. E o partido do governo, o PT fez alguma coisa ? Até que tentou fazer, mas os esforços dos petistas do Exterior até onde são ouvidos em Brasília? Para quem não sabe e não acompanha, o PT é o único partido existente no Exterior e reúne, cada dois anos, as lideranças dos emigrantes petistas num encontro internacional. Ora, as reivindicações dos emigrantes petistas constam de dois documentos – a Carta de Havana e o documento dos Núcleos dos Petistas do Exterior, nos quais pedem autonomia e emancipação política, fim da tutela dos diplomatas, um órgão institucional emigrante, representantes emigrantes em Brasília eleitos pelos emigrantes e voto por correspondência. Nada disso foi levado a sério em Brasília ! Este ano, o Itamaraty organizou num hotel de luxo, no litoral da Bahia, uma Conferência de Emigrantes, na qual a maioria dos participantes tinha sido indicada pelos cônsules, pelegos, gente da patota, e se eliminou a escolha por voto direto dos representantes, ficando tudo nas mãos de diplomatas. As discussões propostas aos emigrantes são sem resultado final, são apenas para manter os emigrantes ocupados. É assim que o governo espera ganhar a maioria dos meio-milhão de votos dos emigrantes ? Parece, mas é uma doce ilusão, porque, parodiando Gilberto Carvalho posso garantir haver insatisfação. E se o governo quiser mesmo ganhar esses votos, terá de mostrar no seu projeto de Programa Dilma 2 uma verdadeira política de emigração. Nada difícil, bastará ler os dois documentos dos emigrantes e colocar no Programa as reivindicações acima citadas. Mas infelizmente nada dos emigrantes chega lá em cima. A verticalidade é total, embora o argumentário usado seja em favor de uma ficção - os conselhos participativos. Esperemos que este Direto da Redação chegue, pelo menos, ao Gilberto Carvalho, porque é se dizendo a verdade que se pode consertar falhas e desvios e evitar surpresas desagradáveis. Rui Martins, jornalista e escritor, editor do Direto da Redação. Ex-representante eleito por emigrantes, junto ao Itamaraty
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Edições digital e impressa
 
 

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