O apelo é assinado por Médicos Sem Fronteiras (MSF), SOS Méditerranée e Sea Watch, cujos navios socorreram 16 barcos em dificuldade apenas nos últimos cinco dias no Mediterrâneo Central, trecho do mar entre as costas de Tunísia e Líbia, no norte da África, e Malta e Itália, no sul da Europa.
Por Redação, com ANSA - de Bruxelas
As três principais ONGs que atuam no socorro a migrantes forçados no Mar Mediterrâneo cobraram a instituição de uma missão de busca e resgate coordenada pela União Europeia.
O apelo é assinado por Médicos Sem Fronteiras (MSF), SOS Méditerranée e Sea Watch, cujos navios socorreram 16 barcos em dificuldade apenas nos últimos cinco dias no Mediterrâneo Central, trecho do mar entre as costas de Tunísia e Líbia, no norte da África, e Malta e Itália, no sul da Europa.
"Pedimos aos Estados da UE que coloquem à disposição uma frota adequada de busca e resgate no Mediterrâneo Central, administrada em nível institucional, e que forneçam uma resposta imediata a todos os pedidos de socorro, juntamente a um planejamento dos desembarques dos sobreviventes", afirmam as ONGs.
Segundo as entidades, a ausência de uma missão europeia no Mediterrâneo e os atrasos na designação de portos seguros para os náufragos resgatados por navios humanitários "minaram a integridade e a capacidade do sistema de socorro e a possibilidade de salvar vidas humanas".
– É nosso dever legal e moral não deixar que essas pessoas se afoguem. Consideradas as exigências, aumentar a capacidade de resposta no Mediterrâneo Central se coloca como uma necessidade imprescindível – reforçou o chefe de missões de busca e socorro de MSF, Juan Matias Gil.
Vácuo institucional
A Itália instituiu em 2013, após a morte de 368 pessoas em um naufrágio na costa de Lampedusa, a missão Mare Nostrum, que usava navios militares para monitorar o Mediterrâneo Central e salvar migrantes em perigo.
Em 2015, essa atividade passou a ser exercida pela missão europeia Sophia, que está paralisada desde 2019 por causa de divergências entre os Estados-membros da UE sobre o local de desembarque das pessoas socorridas no mar.
A ausência da Sophia favoreceu o aumento dos chamados "desembarques fantasmas", ou seja, barcos clandestinos que conseguem cruzar o Mediterrâneo sem ser notados pelas autoridades. A UE conduz atualmente a missão Irini (paz, em grego), mas esta tem como objetivo apenas garantir o embargo de armas à Líbia.
A Itália já recebeu 42 mil migrantes forçados via Mediterrâneo em 2022, crescimento de 40% na comparação com o mesmo período de 2021, de acordo com o Ministério do Interior, e o número vem subindo rapidamente, já que o verão no Hemisfério Norte é mais propício para travessias.
Os principais países de origem dos deslocados são Tunísia (7.612), Egito (7.404), Bangladesh (6.389), Afeganistão (3.308) e Síria (2.434). Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 907 pessoas já morreram ou desapareceram na travessia do Mediterrâneo Central em 2022.
O recrudescimento dos fluxos migratórios no sul da Itália deve ser um dos principais temas da campanha para as eleições antecipadas de 25 de setembro, que têm a extrema direita como favorita à vitória.
Tanto a deputada Giorgia Meloni, líder nas pesquisas, quanto o ex-ministro do Interior Matteo Salvini, terceiro colocado, prometem endurecer as políticas migratórias do país e barrar a entrada de pessoas resgatadas no Mediterrâneo.