A abertura, no dia 11 de outubro às 14h, será seguida pela apresentação da Quadrilha João Danado, do Morro Santo Amaro.
Por Redação – do Rio de Janeiro
Brinquedos, pinturas, objetos, fotos e diversas engenhocas mirabolantes estão na exposição O universo lúdico e inventivo de Deneir Martins, nova mostra do programa Sala do Artista Popular (SAP) que o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP-Iphan) abre ao público dia 11 de outubro, às 14h. Na sequência, às 16h, ocorre a apresentação da Quadrilha João Danado do Morro Santo Amaro. Fundada em 1995, a Quadrilha é um dos orgulhos da comunidade do Morro Santo Amaro, na Glória. Esta será a primeira vez que a Quadrilha João Danado se apresenta no CNFCP, iniciando um diálogo significativo de saberes da cultura popular na região em que é situada a instituição.

– A apresentação da Quadrilha João Danado no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular acontece em diálogo com a abertura da Sala do Artista Popular de Deneir Martins. O artista de Magé, na Baixada Fluminense, trabalha com materiais descartados, e tem as bandeirinhas de São João como marca de muitas obras em seu vasto universo criativo. O Programa Sala do Artista Popular, que há mais de 40 anos promove a arte popular e o artesanato de tradição cultural, é o programa mais longevo da instituição, que mobiliza todos os nossos setores e promove relações de longa duração com mais de 200 artistas e comunidades artesanais. Nós buscamos a partir deste Programa articular outras ações. Entre estas, as aberturas de exposição, para as quais temos um público assíduo, são momentos privilegiados para propor diálogos inventivos com outras linguagens estéticas, artistas e territórios – afirma Ana Carolina Nascimento, coordenadora do Setor de Pesquisa do CNFCP.
E continua: “Nós vínhamos observando, em pesquisa de mapeamento das matrizes tradicionais do forró no estado do Rio de Janeiro, o mundo envolvente, porém ainda pouco conhecido pelo grande público no Sudeste, das quadrilhas juninas. Chama atenção a dedicação dos grupos, muitas vezes formados por crianças e jovens, para ensaiar durante o ano todo em meio às suas atividades escolares e profissionais, e seus expressivos investimentos com figurinos, cenários, equipamentos de som, e todo o mais necessário para a realização de uma festa popular. São pessoas que com sua vida cotidiana realizam, sustentam e atualizam nossos patrimônios culturais e a identidade de nosso país. O CNFCP, instituição pública federal, vinculada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que tem como missão institucional pesquisar, documentar, divulgar e fomentar as expressões da cultura popular brasileira, vem acompanhando com grande atenção o episódio que vitimou Herus Guimarães e toda a comunidade do Morro Santo Amaro durante a apresentação da Quadrilha João Danado no período junino, e os desdobramentos do julgamento do caso.”
Conexões em torno da cultura popular
Sem conexões até a realização da SAP, a obra e vida de Deneir Martins dialogam em vários pontos com a riqueza da Quadrilha João Danado. Autor da pesquisa e do texto do catálogo, o antropólogo Túlio Lourenço Amaral reflete sobre a importância da obra de Deneir Martins, um dos fundadores do movimento Imaginário Periférico. “Deneir é um artista que tem muito a nos dizer. No mundo contemporâneo, marcado pelo imediatismo e utilitarismo, Deneir é confiante em criar obras a partir de tudo o que a gente possa supor, subverte esse significado ou função, para criar algo novo sem a utilidade anterior. São ideias inusitadas que resultam em brinquedos, quadros, objetos interativos, como a exposição vai apresentar ao público”, explica o pesquisador.

O universo lúdico e inventivo de Deneir Martins inspira a atmosfera da infância no público. O artista, de 71 anos, nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ), em 1954, mas cresceu no bairro de Piabetá, pertencente ao sexto distrito do município de Magé, na Baixada Fluminense, onde vive até hoje. Começou a desenvolver sua habilidade na pintura desde cedo – atividade à qual dedicou o início de sua carreira artística. O contato com a Rio-92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, sediada no Rio de Janeiro, em 1992, evento que trouxe à baila de maneira inédita no país a pauta da degradação ambiental e da necessidade de um desenvolvimento sustentável, levou o artista a direcionar seu trabalho para a pesquisa e a produção de obras com materiais de sucata. Passou a coletar peças em ferros-velhos, juntá-las de maneiras imprevisíveis e assim dar forma a objetos singulares. A reciclagem se torna então uma constante em sua obra.
Deneir Martins também é animador cultural no CIEP de Piabetá. Criou o projeto João de Barro, em que ensina cerâmica aos alunos. Integra o núcleo que fundou o coletivo Imaginário Periférico, em 2002, para, entre outros, atrair os olhares do circuito da arte e ampliar o acesso do público às produções locais. Deneir Martins foi ampliando o alcance de seu trabalho. Expôs nas mais diversas galerias, museus e feiras de arte do Rio de Janeiro e do Brasil, no ano do Brasil na França (2005), ministrou oficinas de arte em Paris e participou de uma exposição coletiva em Nice. Em 2019, realizou por um mês uma residência artística na cidade de Otawara, no Japão. Dela resultou a criação, com sucata local, de uma versão de seus famosos balões, que apelidou “Balão Japonês”.
Também produziu uma instalação com dez paus-de-chuva – instrumentos musicais – feitos de bambu, cinco para serem movidos com as mãos e cinco que giravam com motor (Deneir utiliza motor de micro-ondas em suas peças mecânicas). Nomeou a obra “Chovendo no Japão”. Comenta que pensou: “Eu vou juntar essas duas culturas. A do bambu, de lá, com a do pau-de-chuva daqui, de origem indígena. As pessoas não conheciam pau-de-chuva; adoraram aquilo, o som que tem”, declarou.

Serviço:
O universo lúdico e inventivo de Deneir Martins – SAP com obras do artista
Abertura às 14h – Grátis
Apresentação da Quadrilha João Danado do Morro Santo Amaro às 16h – Grátis
Museu de Folclore Edison Carneiro – Rua do Catete, 179. Catete – RJ. Tel. 21 3032.6052 . Mais informações: www.cnfcp.gov.br
Dias e horários de visitação: Terça a sexta-feira, das 10h às 18h. Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h.
Encerramento: 3 de dezembro
Realização:
Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec)
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto de Patrimônio e Histórico e Artístico Nacional (CNFCP-Iphan).