Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

O cinismo total de Mourão: não foi racismo!

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Domingo, 22 de Novembro de 2020 às 14:50, por: CdB

O assassinato de João Alberto Silveira Freitas pelos seguranças truculentos do Carrefour é revoltante e, ao mesmo tempo, é a nova imagem do Brasil circulando pela mídia mundial - a de um país racista, além de destruidor da floresta amazônica. O Brasil hoje virou pau-de-galinheiro com um governo desqualificado que incentiva a violência. Seguem quatro comentários de colegas jornalistas:

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A paciência tem limite!
Elio Gáspaari - Racismo e também demofobia Desigualdade não explica assassinato de Beto Freitas em Porto Alegre Só na semana que vem será possível medir o impacto eleitoral do assassinato de João Alberto Silveira Freitas pela milícia formalizada da rede francesa Carrefour em Porto Alegre. No dia 9 de novembro de 1988 uma tropa do Exército matou três operários que ocupavam a usina de Volta Redonda. Seis dias depois, para surpresa geral, a petista Luiza Erundina foi eleita para a Prefeitura de São Paulo. Como disse o vice-presidente, Hamilton Mourão, João Alberto, o Beto, era uma “pessoa de cor”. Seu assassinato aconteceu no mesmo dia em que o Carrefour anunciava na França sua disposição de boicotar os produtos brasileiros vindos de áreas desmatadas do cerrado. Beleza, em Paris milita-se na defesa das árvores enquanto em Porto Alegre mata-se gente. Esse tipo de comportamento é velho e disseminado. Em 2001 a milícia formalizada da rede Carrefour prendeu duas mulheres no Rio de Janeiro e entregou-as à milícia informal de traficantes de Cidade de Deus. Foram espancadas, mas os bandidos não cumpriram a ameaça de queimá-las vivas. Quando o caso foi denunciado, o embaixador francês era o professor Alain Rouquié, um conhecido intelectual parisiense. Ele foi ao governador Anthony Garotinho e reclamou do noticiário que prejudicava a imagem internacional do Carrefour. Pelos critérios americanos do século 19 e sul-africanos do 20, Mourão é uma “pessoa de cor”. A escrava de Thomas Jefferson com quem ele se acasalava era mais branca que o general. Segundo o vice-presidente e muita gente boa, no Brasil não existe racismo, existe desigualdade. O que pretende ser uma explicação é um agravo. Desigualdade não explica esse tipo de assassinato. Eles são produto da demofobia, onde o racismo tem um papel funcional, pois a cor identifica as pessoas sem direitos. Se Mourão tivesse razão, a coisa funcionaria assim: se você é pobre, ferra-se, se ainda por cima é negro, dana-se. Pelo menos um dos três mortos de Volta Redonda era branco. Celso Lungretti - ... por ele ser negro e pobre.

Gaspari acerta em cheio. Percebe-se claramente que as bestas-feras foram tomadas de fúria desmedida por ele ter reagido com um mísero soco, como quem atinge um gigante com uma pedrada de estilingue e recebe de volta uma rajada de metralhadora.
 
Então, por ele ser negro, ou pobre, ou ambos, aqueles ferrabrases sentiram-se à vontade para descarregarem no Beto todas as suas frustrações de indivíduos medíocres e perdedores das batalhas da vida, relegados a uma função que muitos cidadãos teriam vergonha de desempenhar. 
Agora, ficaremos nessa guerrilha virtual de interpretações polarizadas e mutuamente excludentes, uns vendo racismo demais no episódio e outros fingindo que não houve racismo nenhum.
 
E o principal acaba sendo escamoteado, embora devêssemos, pelo menos nós da esquerda, proclamá-lo em alto e bom som, ao invés de priorizarmos a capitalização de efemérides:
Nenhum ser humano, seja negro ou branco, homem ou mulher, gay ou hetero, rico ou pobre, esquerdista ou direitista, compatriota ou estrangeiro, merece ser massacrado e exterminado como aquelas imagens dantescas nos mostraram. 
Se perdermos isto de vista, nos igualaremos àqueles que tanto desprezamos. Temos a obrigação de ser melhores do que eles!
Ricardo Kotscho - muitos internautas mataram João pela segunda vez.
Se o leitor ficou chocado com as imagens do brutal assassinato do negro João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, no estacionamento de uma loja do Carrefour em Porto Alegre, mais revoltado ainda ficará ao percorrer os comentários dos internautas.
Em boa parte dos mais de 400 comentários, o racismo arraigado na nossa sociedade matou João pela segunda vez, colocando na vítima e na imprensa a culpa pelo que aconteceu.
Carlos Brikmann - Se não não foi racismo é ainda pior...
Como a confusão começou, não se sabe exatamente. João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, negro, saiu do Supermercado Carrefour, em Porto Alegre, e deixou a esposa no caixa, pagando as compras. Quando ela saiu, seu marido estava sendo espancado por dois seguranças do supermercado. Ela e outros clientes tentaram interferir, foram contidos por oito outros seguranças, que protegiam os agressores. João Alberto foi assassinado por asfixia, por pressão nas costas, na noite do dia 19 – véspera do Dia da Consciência Negra. Os dois matadores estão presos. …violência… Não, não foi acidente: João Alberto foi espancado até a morte (uma das cenas do vídeo mostra 12 socos seguidos) depois de avisar os agressores de que estava com dificuldade para respirar. Não, não estava armado. A delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios, responsável pela investigação, disse que não racismo. Por que? Não disse. O vice-presidente da República, general Mourão, afirma também que o caso não foi de racismo.  …ou coisa pior Mas, se não é racismo, se o motivo da violência da agressão não foi a cor da pele da vítima, a coisa é ainda pior: qualquer cliente dos Supermercados Carrefour (onde, não esqueçamos, já houve a perseguição de uma pequena cadela mansa por seguranças do estabelecimento, que a mataram a pauladas) pode ser vítima de funcionários que cultuam a agressão e não se importam com a vida dos outros. Um sueco albino pode ser seu alvo, ou um negro, ou um cavalheiro alto e gordo, com estranhos cabelos alaranjados. Se não é racismo, a imbecil ojeriza por alguma etnia ou cor de pele, é pura maldade. E como uma empresa multinacional deste porte contrata este tipo de gente?
Direto da Redação é um fórum de debats, editado pelo jornalista Rui Martins.
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