O mandato do presidente norte-americano, Donald Trump, ainda em seu início, acabou com “uma certa hipocrisia do multilateralismo”, avaliou Amorim.
Por Redação – de São Paulo
Ex-chanceler e atual assessor especial do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o diplomata Celso Amorim, que reúne a experiência de embaixador e ministro das Relações Exteriores, constata que o mundo vive uma das maiores transformações estruturais das últimas décadas.

O mandato do presidente norte-americano, Donald Trump, ainda em seu início, acabou com “uma certa hipocrisia do multilateralismo”, avaliou Amorim, em declaração à jornalista Mônica Bergamo, colunista do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, neste domingo.
Ao desafiar a ordem mundial até então vigente e renegar a condição de superpotência, o atual presidente passa a defender os interesses de seu país, “de forma deslavada”. É preciso, portanto, “se reorganizar diante de novos desafios”, orienta.
Multipolar
Se Trump poderá aderir à tese bolsonarista de que o Brasil vive sob uma ditadura judicial, para Amorim, o ex-mandatário neofascista “ficou pequeno diante das grandes questões do mundo”; além do que, o presidente norte-americano respeita o poder, e não quem “fica lá querendo adular”.
As mudanças em curso, no mundo, na visão do embaixador, ocorrem de maneira célere. A governança pós-Segunda Guerra Mundial, diz Amorim, “passa por um desmonte. O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, diz que não é mais normal termos uma potência unipolar e que rumamos para um mundo multipolar”.
— Nós estamos vivendo, de certa maneira, a hora da verdade. Os EUA e a Rússia foram os principais vitoriosos (da Segunda Guerra), mas os EUA tinham muito mais influência. E construíram um mundo à imagem e semelhança do que desejavam, com diferenças com a União Soviética e, depois, com a China. Na letra, essa era a ordem internacional vigente — disse.
Inesperado
Mas, segundo o entrevistado, “Havia conflitos (e) de alguma maneira, uma defesa dessas regras internacionais”.
— O primeiro grande abalo nessa ordem foi a queda do muro de Berlim (em 1989) e a dissolução da União Soviética, algo que ninguém imaginava que poderia acontecer. O mundo também muda de forma inesperada. A minha geração passou por duas transformações estruturais imensas. A primeira foi o fim da União Soviética. E agora temos outra enorme mudança, imensa, com os (norte-)americanos renegando a ordem que eles mesmos criaram — conclui.