De acordo com o governo do Estado, as operações têm o objetivo de retomada de território nas duas áreas da cidade que encontram-se sob a influência do tráfico e da milícia para a implantação de um projeto chamado “Cidade Integrada”.
Por Redação, com Brasil de Fato - do Rio de Janeiro
As policias militar e civil do Rio de Janeiro realizaram, na manhã de quarta-feira, ações nas favelas do Jacarezinho, na zona norte da capital, e da Muzema, na Zona Oeste. De acordo com o governo do Estado, as operações têm o objetivo de retomada de território nas duas áreas da cidade que encontram-se sob a influência do tráfico e da milícia para a implantação de um projeto chamado “Cidade Integrada”. A proposta, que será detalhada neste sábado pelo governador Cláudio Castro (PL), tem sido criticada por moradores de favelas e pesquisadores da área de segurança pública. Para Pedro Paulo da Silva, criado na comunidade do Jacarezinho e coordenador de pesquisa do Labjaca, laboratório de dados e narrativas sobre favelas e periferias, o projeto de Castro possui os mesmos erros das já conhecidas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), implementadas em 2008 na gestão de Sérgio Cabral (sem partido). – O que está acontecendo são os mesmos erros que ocorreram com as UPPs. O primeiro é a falta de diálogo com as lideranças comunitárias. É preciso que se entenda qual é o problema e as necessidades das pessoas da favela, ao invés de pressupor quais seriam. É preciso ter diálogo maior e isso não aconteceu com as UPPs e hoje não está acontecendo também – afirma Silva que também é pesquisador do Centro de Estudos de Segurança Pública e Cidadania (CeSec). – Também é preciso ter um foco em questões que são estruturais: discutir a política de drogas e a função da polícia historicamente no Brasil. Não tem como pensar um programa de segurança pública sem esses pontos – complementa. Já para Rumba Gabriel, morador do Jacarezinho e fundador do Movimento Popular de Favelas e do Portal Favelas, a ocupação que ocorre hoje é “triste” e “desesperadora”, pois, segundo o jornalista, muitos dos policiais presentes na ação já foram denunciados por moradores por violações de direitos. – Nós formamos uma comissão com algumas instituições e lideranças para cobrar do governador uma visita para que ele possa nos ouvir, porque a gente não vai aceitar projetos vindos de fora para dentro sem que a gente possa participar. Isso não é uma cidade integrada, a favela quer e precisa se integrar porque ela não tem cidadania. Queremos uma favela com cidadania que nunca tivemos. O Jacarezinho não tem um projeto social, a saúde está falida, não temos uma educação de qualidade, a nossa situação é grave – afirma Gabriel que mora há 67 anos na favela.