Após meses de protestos e violenta repressão no país norte-africano, generais e líderes civis aceitam compartilhar o poder por um período de três anos, após o qual deverão ser realizadas eleições.
Por Redação, com DW - de Brasília
Os militares e a oposição no Sudão chegaram a um acordo para estabelecer um governo transitório de poder compartilhado, após semanas de impasse e violentos protestos no país. A medida foi anunciada nesta sexta-feira pelos mediadores da União Africana.
Os militares e o principal grupo de oposição, as Forças para a Liberdade e Mudança (FFC, na sigla em inglês), se revezarão no comando do chamado Conselho Soberano, que governará o país por um período de três anos e três meses, após o qual serão realizadas novas eleições.
O conselho será composto por cinco civis que representarão o movimento pró-democracia e cinco militares. O 11º membro será um civil escolhido por ambas as partes. Nos primeiros 21 meses, o governo transitório será presidido por um militar, que será sucedido por um civil, segundo comunicado.
O pacto sugere que houve concessões significativas por parte dos manifestantes, que anteriormente insistiam em um presidente civil para o Conselho Soberano. Em contrapartida, o acordo garantiu uma das maiores exigências da oposição: que os membros civis do gabinete sejam escolhidos independentemente da vontade dos generais.
– Asseguramos ao povo sudanês que esse acordo não excluirá nenhum grupo – afirmou Mohamed Hamdan Dagalo, vice-presidente do conselho militar que governa interinamente o país. A liderança do FFC afirmou que se tratar de "um passo essencial na direção certa para atingir os objetivos revolucionários".
O maior entrave para o acordo foi a questão de quem iria liderar o conselho, um militar ou um civil, o que teria sido resolvido pela proposta de poder compartilhado. Os dois lados prometeram investigar os atos de violência ocorridos recentemente no país, que resultou em dezenas de mortes.
Os militares
Os militares tomaram o poder no Sudão após derrubarem o presidente Omar al-Bashir, que comandou a nação africana por três décadas, em meio a protestos em massa contra seu governo. A onda de protestos eclodiu em dezembro, desencadeada pela grave crise econômica no país, e resultou na queda de Bashir em abril deste ano.
Os manifestantes continuaram a sair às ruas mesmo após a deposição de Bashir, temendo que os militares se mantivessem no poder e continuassem com as políticas do ex-presidente.
O governo transitório de poder compartilhado entre militares e civis já havia sido acordado no final de abril. Mas, após a escalada dos protestos e a violenta repressão a uma manifestação no dia 3 de junho, que, segundo a oposição, resultou na morte mais de uma centena de pessoas, o Conselho Militar do Sudão cancelou o pacto e convocou eleições gerais no país, que deveriam ocorrer dentro de um período de nove meses.
A oposição rejeitou a medida e os protestos continuaram, inclusive com a denúncia de mulheres sudanesas de que os militares utilizavam abusos sexuais como forma de intimidar manifestantes.
A União Africana e a Etiópia
A União Africana e a Etiópia intensificaram os esforços para que generais e opositores voltassem à mesa de negociações, o que ocorreu no início desta semana, após milhares de manifestantes saírem às ruas nas maiores cidades do país, nos maiores protestos desde os atos do dia 3 de junho. Ao menos 11 pessoas morreram em confrontos com as forças de segurança, segundo os organizadores.
Depois de a notícia do novo acordo ser divulgada na manha desta sexta feira, muitos saíram as ruas em comemoração. Os líderes dos movimentos pró-democracia no Sudão exaltaram o novo acordo. "Hoje, nossa revolução venceu e brilha a nossa vitória", disse a Associação dos Profissionais Sudaneses, um dos grupos que liderou os protestos.