Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Mil dias de desgoverno: um país à deriva

Arquivado em:
Quarta, 29 de Setembro de 2021 às 06:42, por: CdB

 

Enquanto a economia permanece em estado de transe, paralisada pela completa falta de ação do governo, numa espécie de “laissez faire, laissez passer” tresloucado, a população mais pobre padece terrivelmente.

Por Wellington Duarte– de Brasília

O Brasil parece ter se tornado um campo de experiências bizarras, vindas especialmente da extrema-direita. Temos de tudo um pouco, material suficiente para que economistas, sociólogos, antropólogos, psicólogos, etc., tenham a oportunidade, quem sabe no futuro, de produzir estudos ou apenas descrever como uma nação foi submetida a essa tragédia histórica.
bolso-4.jpg
Os mil dias do governo Bolsonaro parecem ter durando mil anos
Enquanto a economia permanece em estado de transe, paralisada pela completa falta de ação do governo, numa espécie de “laissez faire, laissez passer” tresloucado, a população mais pobre padece terrivelmente. O fantasma da fome está cada vez mais presente na porta das famílias de rendas mais baixas. Os mil dias do governo Bolsonaro parecem ter durando mil anos, tal é o nível de destruição produzido por essa matilha, e tem produzido infâmias, como as disparadas pelo Tesouro Nacional que, diante do déficit registrado de janeiro a agosto de 2021 ter sido de R$ 83,3 bilhões, simplesmente o quarto pior resultado para o período desde o início da sua série histórica, em 1997, promoveu a transformação do “ruim” em “bom”, estabelecendo como parâmetro para uma avaliação positiva, as expectativas dos analistas de que só em agosto o déficit seria de R$ 24,9 bilhões, mas foi de “apenas” R$ 9,8 bilhões. O torniquete fiscal da Emenda Constitucional 95, festejadíssima pelos liberais de proveta, por canalizarem a arrecadação para a melhoria do resultado primário e para o manuseio do endividamento, em meio a uma devastadora crise econômica, tem um tom de deboche macabro. Os festejos e algazarras com essa notícia, exige daquelas pessoas com o mínimo de bom sendo, uma reflexão sobre o futuro desse país. O aumento da Taxa Selic, agora em 6,25% ao ano, e com perspectiva de chegar aí final de 2021 em 7,25%, faz as polianas da economia diminuírem o tom excessivamente ufanista e já começam a reconhecer que, com esse tipo de condução da política econômica, ou seja, nenhuma condução, a nau chamada “BraZil” continua à deriva, enquanto os piratas continuam saqueando-o. Não há um único setor que se possa dizer que houve de algo positivo no governo do Mandrião. Nada. Só desgoverno, corrupção deslavada, perseguições aos servidores públicos, ataques ao meio-ambiente, favorecimento do crescimento das milícias digitais e, acima de tudo, um ódio latente ao pobre. Faz parecer que o presidente tem um desejo mórbido de exterminar negros, índios, pobres, gays e tudo mais que o seu pensamento doentio perceba estar fora do seu arco ideológico.

Disputa presidencial

Aparentemente Bolsonaro chegará a outubro de 2022 com força suficiente para a disputa presidencial, já que mantém uma parcela da população ao seu lado, enquanto as oposições começam a se organizar, não de forma unidade, mas pensando no que pode obter de ganhos eleitorais, o que não deixa de ser trágico. Os mil dias de Bolsonaro mostram a fragilidade do nosso sistema político, é verdade, mas revela o quanto estamos a mercê dessa nova peste do século XXI: o extremismo fascista.

Wellington Duarte, é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio Gande do Norte - UFRN, doutor em Ciência Política e presidente do Sindicato dos Professores da UFRN (ADURN-sindicato).

As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil

Edições digital e impressa
 
 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo