O ‘cercadinho’, como é conhecido o espaço destinado à mídia, na entrada do palácio, amanheceu sem a presença dos jornalistas dos principais veículos da mídia brasileira.
Por Redação - de Brasília
As repetidas ameaças do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seus seguidores aos jornalistas que, diariamente, ouvem desaforos e palavrões na porta do Palácio da Alvorada, levaram as empresas a retirar os repórteres da cobertura, por tempo indeterminado, por falta de segurança. A falta de respeito com os profissionais da Imprensa se estende até aos correspondentes internacionais, classificados de ‘esquerdistas’.
O ‘cercadinho’, como é conhecido o espaço destinado à mídia, na entrada do palácio, amanheceu sem a presença dos veículos das Organizações Globo — que incluem a TV Globo, os jornais O Globo e Valor Econômico, e o site de notícias G1—; do diário conservador paulistano Folha de S.Paulo (FSP) e do canal de TV Bandeirantes. Também o site de notícias Metrópoles, do Distrito Federal, anunciou que não fará mais a cobertura. O diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo também não pauta mais a cobertura à saída do Alvorada.
Em nota ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança da Presidência, o grupo Globo informou que as agressões aos jornalistas vêm crescendo e os repórteres não irão mais ao Alvorada por falta de segurança. A FSP, em reportagem, avisa que somente retomará a cobertura no local depois de receber garantias da Presidência quanto à segurança dos repórteres e fotógrafos.
Agressividade
Foram várias reclamações sobre a crescente agressividade dos apoiadores de Bolsonaro contra os jornalistas encaminhadas, por diversas vezes, à Secretaria de Comunicação da Presidência e ao GSI, sem sucesso, alegam os veículos de comunicação. Uma segunda grade de separação entre apoiadores e integrantes da imprensa, colocada há alguns dias, foi retirada no final de semana, o que reduziu a segurança dos jornalistas profissionais.
No Alvorada, os repórteres ficam separados por apenas uma grade dos apoiadores do presidente, e são comuns ameaças e xingamentos, mas o tom tem crescido nas últimas semanas. Na segunda-feira, com mais de 60 pessoas no local, depois da saída do presidente, parte dos apoiadores foi para a grade de separação xingar os repórteres com muita agressividade.
À tarde, outro enfrentamento, ainda mais violento, dessa vez em frente ao Ministério da Defesa, onde Bolsonaro foi almoçar. Apoiadores do presidente se aproximaram dos repórteres gritando, chegando a cercá-los, e tiveram que ser retirados pela Polícia Militar do Distrito Federal.
Segurança
Na semana passada, depois de uma comunicação do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal cobrando medidas de proteção aos jornalistas, o GSI respondeu que é responsável apenas pela segurança do presidente, do vice-presidente e de seus familiares; mas que havia tomado “algumas medidas” para segurança de todos que frequentam o Alvorada, como a separação das áreas por grades.
Segundo o GSI, as medidas tomadas estão de acordo com suas atribuições de garantir a segurança das autoridades e que estas acabam por beneficiar o “público em geral”. Em nota à imprensa, nesta terça-feira, o GSI afirmou que faz avaliações periódicas das necessidades de segurança no local.
“Em decorrência desta avaliação, implementa as medidas necessárias e suficientes para garantir a segurança adequada”, afirmou, destacando a separação dos jornalistas e dos apoiadores e o uso de detectores de metal.
Máscaras
Entre elas, estaria a exigência do uso de máscaras para entrar no local, o que não é cumprido pela maioria dos apoiadores do presidente. Como mostram imagens do local, a maioria retira as máscaras assim que passa pela segurança.
“O GSI entende e respeita os princípios de liberdade de expressão garantidos pela legislação vigente. Assim sendo, criou as melhores condições possíveis para o trabalho dos profissionais de imprensa e, também, um espaço reservado aos apoiadores do presidente”, diz a nota.