Bolsonaro tenta, mais uma vez, repetir nas disputas municipais o cenário das últimas eleições presidenciais, quando os votos brancos, nulos e abstenções somaram 42 milhões de pessoas.
Por Redação, com RBA - de São Paulo
A recente polêmica promovida por Bolsonaro em relação à compra da vacina do laboratório chinês Sinovac é mais uma aposta no “caos”, segundo o cientista político da Faculdade de Ciências Sociais da PUC de Campinas Vitor Bartella. As brigas constantes estimuladas por ele contribuem para a aversão à política. E um eventual aumento dos votos brancos, nulos e abstenções pode favorecer candidatos apoiados por Bolsonaro nas eleições municipais deste ano.
Na véspera, Bolsonaro desautorizou acordo firmado pelo ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com governadores para a aquisição do imunizante. Com a decisão, o mandatário neofascista agrada sua base mais fiel, adepta das teorias conspiratórias sobre a “vacina chinesa”. É também uma demonstração do alinhamento político-ideológico de Bolsonaro com o presidente norte-americano, Donald Trump, que também explora o sentimento anti-chinês.
Bolsonaristas
Ao mesmo tempo que a postura autoritária agrada seus seguidores, esse tipo de atitude acaba colaborando para o afastamento da política do eleitor médio.
— Ele briga o tempo inteiro para manter as pessoas afastadas, como aquele sujeito que diz que política é tudo igual, que não adianta fazer nada — afirmou Bartella, nesta manhã, à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Assim, Bolsonaro tenta repetir nas disputas municipais o cenário das últimas eleições presidenciais, quando os votos brancos, nulos e abstenções somaram 42 milhões de pessoas.
— Ele sabe que, se esse pessoal entrar, pode provocar um desequilíbrio — afirmou.
Outro fator que contribui para essa estratégia é a fragmentação política, com o aumento expressivo do número de candidaturas, tanto para o Executivo como para o Legislativo. Isso se dá, segundo ele, em função da proibição de coligações para as Câmaras municipais. Nesse sentido, mais partidos lançaram candidatos às prefeituras como forma de dar mais destaque às suas chapas com candidatos a vereadores.
A base enxuta, mas fiel, dos seguidores do presidente pode ser suficiente, nesse cenário, para levar candidatos bolsonaristas ao segundo turno, avalia o cientista político. É o que ele acredita que pode ocorrer, por exemplo, na capital paulista.
Segundo turno
Em função do fragmentação e do desinteresse, o candidato Celso Russomanno (Republicanos) pode levar vantagem, apesar do seu histórico em outras eleições, quando sua candidatura desidratou ainda antes da primeira votação.
— Num cenário de fragmentação, o pouco de apoio que o candidato consiga às vezes é suficiente para chegar ao segundo turno — prevê.
O quadro se repete em Campinas, terceira cidade mais populosa do Estado de São Paulo. A cidade também registrou recorde de candidaturas, com 14 chapas disputando a preferência do eleitor.
— É uma cidade onde Bolsonaro teve votação expressiva, com quase 70% dos votos (68,82% dos votos válido no segundo turno) — concluiu Bartella.