Pesquisa divulgada em setembro pelo Instituto Datafolha revelou que 67% dos brasileiros abandonaram o consumo de carne vermelha por conta dos preços. Neste mês, o Procon-SC classificou como desumana a venda de ossos e aconselhou os estabelecimentos a realizarem doações. No Rio de Janeiro, um caminhão com restos de carne e ossos virou ponto de distribuição para moradores que têm fome.
Por Redação - de São Paulo
A miséria e a fome que atingem o país atingiram, nesta quarta-feira, um novo patamar. Com o aumento nos preços da carne de terceira e até ossos e carcaças de animais com aumentos de mais de 100%, nos últimos dias, o número de brasileiros que passam fome passou a marca dos 20 milhões, o equivalente à população do Chile, segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
No varejo, de acordo com a Rede Mais Açougues, houve aumento de 100% nos preços das carnes de ossos e o dorso do esqueleto de frango está até 60% mais caro. Famílias que recorreram aos cortes de carne de segunda e terceira agora têm que desembolsar valores mais altos para comprar o alimento.
Segundo a consultoria Safras e Mercados, houve um aumento de 45% na carcaça temperada de frango e de 60% no dorso em setembro, na comparação com o ano anterior. Nos suínos, a maior alta foi observada no espinhaço (23,91%) e na orelha (20%). Os dados correspondem aos preços praticados em São Paulo.
Carne vermelha
Ainda assim, a Rede Mais Açougues, presente em 10 Estados, aponta que as carnes de ossos - partes menos ou nada nobres - tiveram um aumento de 100% desde o começo da pandemia. O destaque vai para o pé de frango, cujo consumo aumentou 26%.
Diego Moscato, cofundador da Rede Mais Açougues, disse a jornalistas, nesta quarta-feira, que caiu 22% a venda de carnes de primeira, como a maminha. Para ele, o consumo só continua por conta das classes A e B.
Pesquisa divulgada em setembro pelo Instituto Datafolha revelou que 67% dos brasileiros abandonaram o consumo de carne vermelha por conta dos preços. Neste mês, o Procon-SC classificou como desumana a venda de ossos e aconselhou os estabelecimentos a realizarem doações. No Rio de Janeiro, um caminhão com restos de carne e ossos virou ponto de distribuição para moradores que têm fome.
A realidade, para estes mais de 20 milhões de brasileiros, soma-se a outros 24,5 milhões que não têm certeza de como se alimentarão no dia a dia e já reduziram quantidade e qualidade do que consomem. Outros 74 milhões vivem inseguros sobre se vão acabar passando por isso. Segundo o levantamento, da Rede Penssan, mais da metade (55%) dos brasileiros passavam por algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve) em dezembro de 2020. Os números atuais, de acordo com a instituição, tendem a piorar.