O museu de artes decorativas Victoria and Albert, de Londres, dedica uma retrospectiva completa à britânica Vivianne Westwood, conhecida como a estilista do punk, na maior mostra sobre um desenhista de alta-costura organizada por esse centro.
Inquieta, irreverente e inconformista, Westwood colore a roupa de seus contemporâneos há mais de trinta anos. "Sua vida será muito melhor se você vestir roupa extraordinária", diz a própria estilista, dedicada a reinventar a moda de seu país.
A exposição foi apresentada hoje (30) à imprensa no prestigioso museu de artes decorativas, e permanecerá aberta ao público entre 1º de abril e 11 de julho.
"A mostra de Westwood é muito importante para o Victoria and Albert. Fizemos outras parecidas, mas esta é a mais significativa", disse hoje Claire Wilcox, da comissão organizadora.
"Seus 34 anos no mundo da moda influenciaram a forma com que percebemos as coisas e contribuíram para que sejamos mais abertos", afirmou.
A exibição percorre todas as épocas da carreira da estilista em duas grandes salas com desenhos, acessórios e um vídeo sobre a desenhista.
Desde menina, Westwood tentou se manter fora dos padrões. Ela deu seus primeiros passos na moda transformando seu uniforme escolar em uma saia tubo. Bem jovem, já criava vestidos soltos sem mangas e uma única costura.
"Tenho uma espécie de relógio interno que reage sempre contra o estabelecido", afirma.
A idéia é ilustrada por um relógio em que os ponteiros giram na direção contrária localizado na fachada da "World's End" (O fim do mundo), sua loja em King's Road, no sofisticado bairro de Chelsea, em Londres.
Dessa loja, montada por seu marido, Malcolm McLaren, saíram muitos dos desenhos que marcaram o punk dos anos setenta, especialmente os do grupo The Sex Pistols, do qual ele era produtor musical.
A banda utilizou correntes, tecidos manchados, mensagens irreverentes, roupas desgastadas e rasgadas - tudo contribuindo para uma imagem rebelde e desafiante.
Apesar de a roupa de Westwood nunca ter sido barata, seus admiradores sempre reproduziram rapidamente os desenhos, o que, junto com o trabalho de seu marido, transformou ambos nos pais da estética punk britânica.
McLaren remodelou várias vezes a loja e mudou seu nome em diferentes ocasiões, até o famoso lema "Too Fast to Live, Too Young to Die" (Muito rápido para viver, muito jovem para morrer), frase transformada em uma espécie de emblema na roupa de Westwood.
A exposição, organizada durante dois anos, também mostra os modelos de Westwood dos anos oitenta, inspirados na estética pirata.
Foi nessa década que ela se sentiu desenhista pela primeira vez, pois McLaren estava imerso na música e sua colaboração profissional com o marido foi encerrada em 1983.
Ao percorrer a exposição, descobre-se a adaptação da estilista e sua reinterpretação da moda escocesa, pela qual ela estava fascinada, e a utilização de acessórios femininos como a saia curta e o espartilho.
Em 1990 começa a projeção internacional de Westwood. Seu estilo peculiar se suaviza, mas continua sendo inovador e surpreendente. Nessa etapa se destacam os vestidos longos de noite, mais elegantes e flertando com a moda do século XVII.
Na mostra pode ser observado como Vivianne Westwood, através de sua trajetória, se adapta à tradição britânica, parodiando de certo modo a monarquia, pois a estilista exagera na moda utilizada pelos membros da Família Real britânica.
Desde o início de sua carreira, a intenção da estilista foi "lutar de dentro do sistema" contra os padrões estabelecidos.