Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Lojas do Carrefour tornam-se alvo de depredações e movimentos por boicote

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Sábado, 21 de Novembro de 2020 às 11:13, por: CdB

Na capital gaúcha, manifestantes depredaram carros de entrega da rede no estacionamento da loja onde João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte por um segurança e um policial militar temporário.

Por Redação, com Reuters - de São Paulo
O assassinato por espancamento de um homem negro em uma loja do Carrefour Brasil em Porto Alegre, na noite de quinta-feira, véspera da data em que várias cidades do país comemoraram o feriado do Dia da Consciência Negra, provocou protestos e ataques a lojas da rede em vários locais do país e gerou pedidos de boicote contra a rede varejista; além de manifestações contra o racismo.
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João Freitas foi agredido a socos e asfixiado por dois seguranças do Carrefour
Na capital gaúcha, manifestantes depredaram carros de entrega da rede no estacionamento da loja onde João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado até a morte por um segurança e um policial militar temporário que estava fora de serviço. Em São Paulo, um grupo que participava da marcha pelo Dia da Consciência Negra atirou pedras contra a fachada de uma loja da rede francesa de supermercados na Rua Pamplona, perto da Avenida Paulista — zona de alto poder aquisitivo na capital paulista —, estilhaçando vidros e danificando carros estacionados no local. Também invadiram a loja e quebraram vidros e depredaram o estabelecimento, mostraram imagens na TV.

Carrefour

Outros protestos aconteceram em lojas da rede em outras cidades, como Brasília e no Rio de Janeiro, onde cerca de 200 manifestantes tentaram bloquear o funcionamento de uma loja da rede na Barra da Tijuca e chegou a ocorrer um princípio de tumulto. O assassinato na loja do Carrefour em Porto Alegre é o mais recente episódio violento ocorrido dentro de um estabelecimento da rede varejista no Brasil e levou o chairman e presidente do Carrefour, Alexandre Bompard, a se manifestar em sua conta no Twitter. “Em primeiro lugar, gostaria de expressar meus profundos sentimentos, após a morte do senhor João Alberto Silveira Freitas. As imagens postadas nas redes sociais são insuportáveis”, escreveu ele na rede social. “Medidas internas foram imediatamente tomadas pelo Grupo Carrefour Brasil, principalmente em relação à empresa de segurança contratada. Essas medidas são insuficientes. Meus valores e os valores do Carrefour não compactuam com racismo e violência.”

Justiça

Ele pediu também que a filial brasileira realize “uma revisão completa das ações de treinamento dos colaboradores e de terceiros, no que diz respeito à segurança, respeito à diversidade e dos valores de respeito e repúdio à intolerância” e que o Carrefour Brasil colabore com as autoridades e com a Justiça na investigação do caso. O empresário Abilio Diniz, que integra o Conselho de Administração do Carrefour Brasil e é um dos acionistas da companhia, também se manifestou no Twitter, classificando a morte de Freitas como “tragédia e uma enorme brutalidade”. “Pedi à empresa que não meça esforços e trabalhe incansavelmente para que fatos trágicos como este jamais se repitam no Brasil”, escreveu. “E mais, que o Carrefour se organize para ser um agente transformador na luta contra o racismo estrutural no Brasil e no mundo”, acrescentou. Também nas redes sociais, internautas pediram um boicote ao Carrefour e compartilharam uma imagem do logo da empresa com sangue e a palavra “racismo” no lugar do nome da companhia.

Sufocado

O assassinato de Freitas, cujo vídeo do espancamento foi amplamente compartilhado nas redes sociais na sexta, teria ocorrido após ele discutir com uma caixa do supermercado que então chamou o segurança da loja. O vídeo do espancamento mostra Freitas sendo agredido por dois homens, identificados como Magno Braz Borges, segurança do Carrefour Passo D’Areia, e Giovani Gaspar da Silva, policial militar temporário. De acordo com testemunhas, Silva estaria fazendo compras quando participou do espancamento. Freitas aparece sendo agarrado por um dos homens enquanto o outro dá socos em sua cabeça. Depois, um dos homens coloca o joelho nas costas da vítima enquanto o outro continua batendo. Uma mulher, identificada depois como também funcionária do Carrefour, de acordo com a mídia local, filma a agressão de perto. A polícia foi chamada depois que Freitas já estava imóvel. Uma ambulância também foi chamada, mas o homem agredido já estava morto. Os dois agressores foram presos em flagrante e autuados por homicídio triplamente qualificado.

Indignação

Em nota, a Brigada Militar — como é chamada a Polícia Militar do Rio Grande do Sul — informou que Silva não é policial efetivo, não estava em serviço policial e tem atribuições restritas a atividades administrativas e videomonitoramento. Segundo a BM, a conduta de Silva fora do horário de trabalho será “avaliada com todos os rigores da lei”. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao lado da chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, e do comandante-geral da Brigada Militar, coronel Rodrigo Mohr, afirmou que as imagens causam indignação e que todas as circunstâncias estão sendo apuradas para que os responsáveis sejam punidos. — Todo o esforço do Estado estará na apuração para que os responsáveis por esse crime enfrentem a Justiça, tendo a sua oportunidade de defesa. Mas as cenas são incontestes de que houve excessos que deverão ser apurados”, disse o governador.

Recorrente

No caso do Carrefour, esta não é a primeira vez que episódios bizarros ocorrem em seus estabelecimentos. Em meados de agosto desse ano, um homem passou mal e morreu em uma loja do Carrefour Brasil, em Recife. O corpo foi coberto com guarda-sóis e separado do movimento de clientes por meio de caixas e barreiras improvisadas, enquanto a loja funcionava, normalmente, de acordo com relatos e imagens publicados em redes sociais. Na ocasião, a empresa afirmou que a forma como tratou da ocorrência foi inadequada e também pediu desculpas. Nesse caso, o Carrefour disse que mudou orientações aos funcionários para incluir a obrigatoriedade de fechamento da loja. Em 2018, um segurança de uma das lojas da empresa no Estado de São Paulo matou um cachorro de rua que circundava o estabelecimento após golpear o animal com uma barra metálica, num caso que causou revolta em redes sociais e de organizações de defesa dos animais.
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