Nove ativistas da Revolução dos Guarda-Chuvas, de 2014, são considerados culpados de acusações de perturbação da ordem pública. Foi o maior movimento de desobediência civil da história do território.
Por Redação, com DW - de Hong Kong
Nove líderes da Revolução dos Guarda-Chuvas, o maior movimento de desobediência civil na história de Hong Kong, foram considerados culpados nesta terça-feira por acusações de perturbação da ordem pública e estão sujeitos a penas de até sete anos de prisão por cada acusação. As penas ainda não foram determinadas. Entre os condenados estão três ativistas famosos, fundadores do movimento Occupy Central: Chan Kin-man, de 59 anos, professor de Sociologia; Benny Tai, de 54, professor de Direito; e Chu Yiu-ming, de 74 anos, pastor da Igreja Batista em Hong Kong. Eles foram considerados culpados de conspiração para perturbar a ordem pública, de incitar à rebelião por meio da obstrução ilegal de lugares públicos e de incitar e mobilizar manifestantes para perturbar a ordem pública. Os deputados Tanya Chan e Shiu Ka-chun, os ex-líderes estudantis Tommy Cheung Sau-yin e Eason Chung Yiu-wa e o vice-presidente da Liga dos Sociais-Democratas, Raphael Wong Ho-ming, foram considerados culpados de incitação para cometer distúrbios sociais. O ex-deputado democrata Lee Wing-tat foi considerado culpado de uma acusação de incitação ao distúrbio social. Entre 28 de setembro e 15 de dezembro de 2014, o Occupy Central, com o apoio de movimentos sociais e estudantis, paralisou quarteirões inteiros da antiga colônia britânica para exigir o sufrágio universal na escolha do chefe do executivo de Hong Kong, sem interferências do governo em Pequim. Mas as autoridades chinesas não cederam aos apelos dos participantes. A polícia usou gás lacrimogêneo para reprimir os protestos, e os manifestantes, muitos deles estudantes, se protegeram usando guarda-chuvas, que se tornaram o símbolo das manifestações. Chan, Tai e Chu renderam-se à polícia após 79 dias de protestos, dando fim ao movimento Occupy Central. Nesta terça-feira, antes de entrar no tribunal, Tai se declarou tranquilo e disse que ver centenas de apoiadores reunidos do lado de fora carregando guarda-chuvas amarelos o deixava animado, segundo um jornal local. "Não importa o que aconteça, confio que muitos de nós continuaremos lutando pela democracia, persistiremos, não nos renderemos", afirmou. A organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) disse que o veredito envia uma mensagem "terrível", porque "encorajará o governo de Hong Kong a processar mais ativistas pacíficos, o que restringirá ainda mais a liberdade de expressão" no território. A Anistia Internacional condenou a decisão e afirmou que o processo judicial é um ataque às liberdades civis que "elevará as tensões políticas" na região. O Ministério das Relações Exteriores da China expressou apoio às autoridades de Hong Kong para punir os organizadores de acordo com a lei. Segundo a HRW, cerca de 200 manifestantes foram processados até agora por participação no movimento, e dezenas foram condenados por várias acusações, incluindo reunião ilegal, posse de armas e agressão comum. Vários cumprem penas de prisão. Alguns foram proibidos de concorrer a eleições, e outros foram desqualificados do Conselho Legislativo de Hong Kong. Em entrevista à agência alemã de notícias Deutsche Welle (DW) o proeminente ativista de Hong Kong Joshua Wong condenou o veredito no caso dos líderes da Revolução dos Guarda-Chuvas e afirmou que o movimento pró-democracia do país está pronto para uma longa batalha, apesar de perseguições e prisões. Ele criticou as políticas linha-dura impostas por Pequim e pediu mais apoio de governos estrangeiros. Recentemente, o cancelamento de eventos literários e artísticos e a recusa em permitir a entrada de um jornalista do Financial Times em Hong Kong reacenderam a preocupação com a liberdade de expressão no território, que é uma região administrativa especial da China. Em 1997, na transferência de soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China, foi prometida uma semiautonomia durante 50 anos, que permitiria manter os direitos de reunião e liberdade de expressão no território.