Rio de Janeiro, 04 de Maio de 2025

Jean Ziegler e o revolucionário africano Sankara

Por Rui Martins - O retorno à atualidade do nome de Thomas Sankara, traz também à atualidade um dos grandes admiradores do líder africano, Trata-se do sociológo, político e escritor suíço Jean Ziegler, hoje com 88 anos, vivendo no cantão de Genebra.

Domingo, 06 de Fevereiro de 2022 às 11:48, por: CdB

O tardio processo contra os autores e mandantes do assassinato do líder panafricano Thomas Sankara, há 34 anos, relançou o debate sobre a neocolonização africana e sobre a ameaça religiosa do avanço do islamismo, religião que mais cresce na África. Quaisquer semelhanças com a expansão da teologia do poder evangélico nas Américas não seriam meras coincidências. Esse processo tinha sido interrompido com o novo golpe militar, há três semanas, mas agora prossegue.

Por Rui Martins
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Jean Ziegler, mais conhecido como o inimigo do segredo bancário suiço, era amigo do revolucionário Thomas Sankara
O retorno à atualidade do nome de Thomas Sankara, traz também à atualidade um dos grandes admiradores do líder africano, Trata-se do sociológo, político e escritor suíço Jean Ziegler, hoje com 88 anos, vivendo no cantão de Genebra. Ziegler, o tribuno suíço que durante anos denunciou o poder dos bancos suíços, é também autor de numerosos livros entre os quais um bastante conhecido e comentado no Brasil, A Suíça lava mais branco. Sempre livros de denúncias relacionados com o poder financeiro e com o neocolonialismo na África. Durante oito anos, Ziegler foi o relator especial da ONU para o direito à alimentação e, durante esse mandato, dedicou especial atenção ao Brasil. Conheci Jean Ziegler, quando trabalhava na Rádio Suíça Internacional. Nessa época, foi lançado o livro Uma Suíça acima de qualquer suspeita, primeira grande denúncia internacional sobre as espoliações feitas em nome do segredo bancário. Acostumado com as perseguições feitas aos líderes populares, inclusive seus assassinatos, nos movimentos de libertação africanos e latinoamericanos, Jean Ziegler era vice-presidente do Comitê Consultivo dos direitos humanos da ONU, quando publicou na imprensa francesa um artigo em defesa e pela libertação de Lula, no qual dizia "Lula revolucionou o Brasil ao eliminar até certo ponto a miséria". "Vou lhes dar uma só cifra, escreveu Ziegler, porque eu era relator especial do direito à alimentação das Nações Unidas e, nessa época, tive de lidar muito sobre isso com Lula da Silva. En 2002, quando Lula foi eleito pela primeira vez, 21,8% dos brasileiros viviam em permanência subalimentados. Depois de Lula e graças ao plano Fome Zero, essa subalimentação praticamente accabou". Quando Ziegler era professor de sociologia na Universidade, em 1984, foi o próprio Thomas Sankara quem lhe contatou por telefone de Ouagadougou, capital do antigo Alto Volta agora Burkina Faso, para que fosse encontrá-lo, pois havia lido seu livro sobre o neocolonialismo africano. É o próprio Ziegler quem relembra o encontro e a amizade criada entre os dois até o assassinato de Sankara três anos depois, numa entrevista concedida ao jornal Le Temps de Genebra. Thomas Sankara e as transformações por ele feitas no Burkina Faso voltaram a ser atuais e rediscutidas com a abertura do processo sobre seu assassinato, há 34 anos. Jean Ziegler havia dedicado dois livros ao jovem revolucionário africano: Thomas Sankara, o novo poder africano, em 1986, e a quarta parte do livro A vitória dos vencidos. Para ele, os grandes líderes africanos da primeira geraçao da independência contra o colonialismo foram Patrice Lumumba, Kwame Nkrumah e Sekou Touré, seguindo-se Thomas Sankara, na luta contra o neocolonialismo. Por Rui Martins, correspondente na Suíça.        
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