Para a polícia, o caso do jornalista Ivandel Machado Godinho Júnior, de 52 anos, seqüestrado dia 22 de outubro de 2003, nos Jardins, pode estar no fim, com a descoberta de uma ossada, carbonizada, em um matagal em Capão Redondo, zona sul de São Paulo, na noite de terça-feira. Já para a família, que afasta a hipótese de morte, esta é apenas mais uma boa oportunidade para retomar o caso na mídia e espalhar a foto de Ivandel por todo o País. "Tenho plena convicção de que ele está vivo e perambulando por aí, desmemoriado. Quanto mais as pessoas virem a imagem dele, mais estarão atentas nas ruas e hospitais", diz Ivens Godinho, irmão de Ivandel.
A mulher do jornalista, Cristina Moretti, dona da InPress, preferiu não se manifestar até que os resultados do exame de DNA sejam divulgados. "Ela está em casa, com as crianças", disse Ivens, referindo-se aos quatro filhos de Ivandel. Em recente entrevista para a revista Imprensa, ela disse que tenta não desanimar enquanto não tem uma solução para o desaparecimento, mas cobra mais empenho do secretário da Segurança Pública, Saulo Abreu. "Não posso deixar minha vida em suspenso, tenho de tocar pra frente. Acho que é isso que o Ivandel esperaria de mim", disse ela.
O homem acusado de planejar o seqüestro do jornalista foi preso por porte de arma em 28 de outubro de 2003, seis dias após o crime, mas não ficou muito tempo atrás das grades. Sidney Correa, flagrado por policiais militares com uma pistola 380, foi indiciado no 47.º DP, no Capão Redondo, pagou fiança e foi liberado.
Três homens foram presos na segunda-feira por policiais da 6.ª Delegacia Seccional, em Santo Amaro, e confessaram a participação no seqüestro e assassinato do empresário. Eles disseram que Ivandel levou duas coronhadas na cabeça, com a pistola de Correa, porque não tinha remédio para diabetes e tentou fugir do cativeiro. Afirmaram ainda que ele sangrou muito e morreu 48 horas depois.
Queimaram seu corpo e o enterraram num matagal da Rua Jacques Memarcier. No local onde o corpo foi enterrado foram apreendidos fragmentos de ossos. Policiais da 6.ª Delegacia Seccional têm convicção de que a ossada é de Ivandel. A Polícia Civil, no entanto, está cautelosa e aguarda o exame de DNA. O material foi entregue ao Instituto Médico-Legal e o resultado deve sair em dez dias.
Fabiano Pavan Prado, de 30 anos, Wilson Moraes Silva, de 19, o Turu, e G., de 17, reconheceram Ivandel por foto. Prado contou que a casa onde morava, na Rua George Anselme, 877, no Parque Europa, foi o cativeiro. Eles apontaram Correa como mentor do crime.
Segundo Prado, três dias após o seqüestro, Ivandel tentou fugir e foi agredido. Dois dias mais tarde, morreu. Os bandidos enrolaram o corpo num cobertor, o puseram num Fusca e levaram para o mato nos fundos da Creche Tancredo Neves. Para dificultar a identificação, a cabeça foi decepada.
Prado disse que Correa lhe prometeu R$ 1 milhão para ceder a casa. Afirmou que contratou Silva e o menor para vigiar a vítima. Cada um receberia R$ 50 mil pelo serviço. Além de Correa a polícia procura outro homem.
Sem conhecer o teor total das investigações e confissões dos três presos, a família prefere agarrar-se às informações que vem recebendo sobre o possível paradeiro de Ivandel. "Pelo perfil que me passaram das pessoas que foram presas, me parece pouco provável que façam parte de uma quadrilha organizada", diz Ivens. Ele só entrou em contato com a polícia ontem de manhã, mas nenhum esclarecimento concreto lhe foi dado. "Temos de aguardar e rezar para que alguém o encontre vivo logo. Já chega, é muito sofrimento."
A última denúncia sobre o paradeiro do jornalista foi em julho quando disseram tê-lo visto em Santos. Desde que o resgate de US$ 50 mil foi pago, no início de 2004, a família distribuiu 14 mil folhetos com a foto de Ivandel pelo interior paulista, onde supõe que ele possa ter sido libertado.
Ivandel está vivo, diz família
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Quarta, 05 de Janeiro de 2005 às 21:35, por: CdB