Segundo a ONU, mais de 1,3 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza são agora refugiados em Rafah, uma cidade que tinha cerca de 200 mil habitantes antes da guerra.
Por Redação, com CartaCapital - de Gaza
O Exército israelense bombardeou intensamente, neste sábado, a cidade de Rafah, no extremo-sul da Faixa de Gaza, colapsada pela presença de mais de 1 milhão de palestinos que fogem dos combates nesse território.
Em meio às negociações para tentar estabelecer uma nova trégua em Gaza, essa cidade fronteiriça com o Egito foi alvo de potentes ataques aéreos, segundo uma jornalista da agência francesa de notícias AFP.
Uma série de ataques aéreos e disparos de tanques também atingiu Khan Yunis, disse um jornalista da AFP. A principal cidade do sul de Gaza se tornou o principal foco da ofensiva israelense nas últimas semanas.
O Ministério da Saúde desse território, controlado pelo movimento islâmico Hamas, garantiu que pelo menos 100 civis morreram durante a noite em toda Gaza.
O exército israelense informou que matou “dezenas de terroristas” no norte e centro de Gaza nas últimas 24 horas.
Desde que a guerra eclodiu em 7 de outubro entre Israel e o Hamas, centenas de milhares de palestinos deslocados pelos combates fugiram para Rafah e agora se encontram aglomerados em barracas de campanha.
Segundo testemunhas, 12 pessoas morreram em um ataque aéreo contra uma casa.
– Bombardearam sem aviso prévio – disse Bilal Jad, de 45 anos, que teve sua casa danificada.
– Não há nenhum lugar seguro – lamentou.
“Escapamos da morte”
Segundo a ONU, mais de 1,3 milhão dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza são agora refugiados em Rafah, uma cidade que tinha cerca de 200 mil habitantes antes da guerra. Os deslocados se concentram perto da fronteira fechada com o Egito, ameaçados pela fome e por epidemias, em pleno inverno.
Um deles, Abdulkarim Misbah, contou que primeiro fugiu de Jabaliya, no norte, para Khan Yunis, no sul, antes de ser forçado a se deslocar, novamente, devido aos combates.
– Escapamos da morte na semana passada em Khan Yunis. Não pudemos levar nada conosco – lamentou esse homem de 32 anos.
O conflito eclodiu há quase quatro meses com a incursão em solo israelense de comandos islamistas que mataram cerca de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestraram pelo menos 250 no sul de Israel, segundo balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Uma primeira trégua em novembro permitiu libertar uma centena de reféns, mas Israel afirma que 132 continuam retidos em Gaza. Desse total, suspeita-se de que pelo menos 27 estejam mortos.
Em resposta ao ataque do Hamas, classificado como grupo terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia, Israel lançou uma ofensiva sobre Gaza que já deixou 27.238 mortos, na sua maioria mulheres e menores, de acordo com balanço mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde do movimento palestino.
Negociações para uma segunda trégua
Ante essa grave crise humanitária e as enormes perdas civis, os diplomatas trabalham nos bastidores para tentar conseguir uma segunda trégua, após aquela de uma semana instituída no final de novembro.
O chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, que vive no Catar, deve chegar ao Egito para tratar de uma proposta elaborada em uma reunião no final de janeiro, em Paris, entre representantes dos Estados Unidos, do Catar, do Egito e de Israel.
Segundo uma fonte do Hamas, a proposta consiste em três fases. A primeira incluiria uma trégua de seis semanas, uma troca de 200 a 300 prisioneiros palestinos por entre 35 a 40 reféns e a entrada diária de 200 a 300 caminhões de ajuda humanitária em Gaza.
O Qatar informou que Israel aprovou a proposta e que dispunha de “uma confirmação preliminar positiva por parte do Hamas”, embora uma fonte do grupo tenha afirmado que “ainda não há acordo sobre a implementação”.
O Hamas exige a retirada israelense de Gaza, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reiterou que não terminará sua ofensiva até que o Hamas seja erradicado, e todos os reféns, libertados.
Viagem de Blinken
Em meio a essas negociações, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, parte no domingo para uma viagem regional com escalas no Catar, no Egito, em Israel, na Cisjordânia e na Arábia Saudita.
O diplomata pressionará pela libertação dos reféns em troca de uma “pausa humanitária”, informou o Departamento de Estado.
Essa nova viagem de Blinken é precedida por bombardeios americanos contra posições de grupos pró-Irã na Síria e no Iraque, alegadamente em represália pela morte de três de seus soldados em uma base na Jordânia. Washington atribuiu o ataque a organizações apoiadas por Teerã.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, garantiu que seu país “não busca conflitos no Oriente Médio”, mas advertiu que a resposta a esses ataques “continuará”.
Enquanto isso, no Líbano, o Exército israelense disse que seus aviões de combate atacaram alvos do grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã.
A guerra em Gaza exacerbou as tensões entre Israel e seu aliado americano, de um lado, e do outro, o chamado “eixo de resistência”, que inclui o Hamas, o grupo xiita libanês Hezbollah, as milícias iraquianas e os rebeldes huthis no Iêmen.