Segundo os autores do livro 'A grande reversão demográfica', “o mundo está entrando em uma fase em que os preços estarão constantemente pressionados devido à redução da mão de obra disponível globalmente – o que dará maior poder de barganha aos trabalhadores e, consequentemente, elevará os salários”.
Por Redação, com OESP - de Londres
A onda de inflação porque passam o Brasil, os EUA e países da Europa não é passageira. A constatação é do economista Charles Goodhart, que publicou recentemente o livro ‘The Great Demographic Reversal’ (A grande reversão demográfica). Ao lado de Charles Goodhart estava também o economista indiano Manoj Pradhan. Ambos afirmam que a alta inflacionária que o mundo observa não é decorrente apenas dos choques da pandemia, ao contrário do que dizem muitos economistas.
Segundo os autores, “o mundo está entrando em uma fase em que os preços estarão constantemente pressionados devido à redução da mão de obra disponível globalmente – o que dará maior poder de barganha aos trabalhadores e, consequentemente, elevará os salários”.
Os autores destacam que, “nos últimos 30 anos, a entrada dos chineses no mercado global e o fato de grande parcela da população estar em idade economicamente ativa fizeram com que o número de trabalhadores lutando por uma vaga crescesse a patamares jamais vistos, reduzindo a inflação, mas elevando a desigualdade nos países ricos. Agora, porém, chegou o momento da reversão demográfica”.
Emergentes
Para Goodhart, em entrevista ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), nesta segunda-feira, “se os EUA não perceberem essa mudança a tempo e o Federal Reserve (o Fed, o Banco Central do país) acabar aumentando a taxa de juros de forma afobada, o resultado será uma recessão global”.
Professor emérito da London School of Economics, Goodhart foi membro independente do conselho de política monetária do Banco da Inglaterra e consultor do Morgan Stanley. Ele espera um mundo com mais inflação, salários mais altos e taxas de juros maiores no longo prazo, mas também afirma que os governos não estão se preparando para isso.
— Eu falo principalmente dos países avançados, porque, em muitos dos emergentes, a inflação já é mais alta. Nas economias avançadas, os Bancos Centrais (BCs) e os políticos esperam que os juros nominais permaneçam mais baixos por mais tempo e que a inflação terá uma pequena alta durante a pandemia, mas vai voltar rapidamente para o nível de antes da covid — resumiu.