Segundo a CitrusBR, apesar do retorno das chuvas neste mês, é fato que a estiagem afetou fortemente algumas regiões citrícolas de São Paulo, Estado que responde pela maior parte da produção brasileira.
Por Redação, com Reuters - de São Paulo
O tempo seco durante o inverno e as temperaturas altas em setembro tendem a acentuar uma quebra na safra de laranjas do Brasil, maior produtor global do suco da fruta, trazendo preocupação para os estoques da temporada 2020/21, que já seriam menores devido ao ciclo de baixa da cultura.
Apesar do retorno das chuvas neste mês, é fato que a estiagem afetou fortemente algumas regiões citrícolas de São Paulo, Estado que responde pela maior parte da produção brasileira, disse o diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), Ibiapaba Netto.
— Em algumas delas, mesmo áreas com sistemas de irrigação não se salvaram porque a água do subsolo secou — afirmou o executivo à agência inglesa de notícias Reuters, com base em relatos de produtores. Nas redes sociais, circulam imagens de frutas caídas nos pomares pelo efeito do clima.
Expectativas
Segundo Netto, o que não se sabe ainda é a dimensão do impacto do clima adverso, o que deve ser captado pela instituição de pesquisa Fundecitrus em sua próxima estimativa de safra, prevista para dezembro.
Até o momento, a safra 2020/21 de laranja do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas Gerais, principal região produtora para a indústria exportadora de suco do país, está estimada em 286,72 milhões de caixas de 40,8 kg, queda de 25,87% em relação à temporada anterior.
O volume já representa uma das quebras mais severas de safra dos últimos dez anos, disse anteriormente o Fundecitrus, que preferiu não comentar sobre as expectativas para o próximo levantamento de colheita.
Lavouras
O consultor de Agronegócio do Itaú BBA, César de Castro Alves, destacou que a citricultura tem os ciclos de bienalidade muito claros, assim como as lavouras de café, o que justifica — em partes — a produção atual ser “bem menor”.
Ele lembrou que, antes mesmo das “altíssimas temperaturas” de setembro, desde o início da safra, entre julho e agosto, os pomares já vinham passando por déficit hídrico.
— O efeito dessa seca vai jogar um viés negativo sobre a queda de 26% já projetada... Você tem um comprometimento das frutas que vão maturar até o fim do ano... e o ano que vem (2021/22) que está totalmente em aberto, já começa prejudicado — disse ele, ponderando que há preocupação inicial com o “pegamento” das floradas para a próxima safra.
Forte calor
O agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, explicou que as regiões brasileiras que produzem laranja tiveram dois episódios de chuvas significativas: um próximo do dia 21 de agosto e outro perto de 21 de setembro.
— Essas duas chuvas geraram floradas só que na sequência o que veio, principalmente em setembro, foi um calor insuportável e uma seca horrível, que levou a quebras nas floradas — explicou.
Desde meados de 10 de outubro, as precipitações foram restabelecidas de maneira mais regular, abrindo espaço para a instalação de uma terceira florada com grande chance de “pegamento”, ante a tendência de continuidade das chuvas e temperaturas dentro da normalidade para o restante da primavera.
Estresse
Porém Santos acredita que a terceira florada não tem capacidade para reparar os danos deixados pelas duas anteriores, que exigiram um amplo gasto de energia das plantas. Além disso, as múltiplas florações vão deixar a safra desigual em 2021.
— Por conta do estresse hídrico, nada impede que haja mais uma florada em novembro. Isso gera um problema porque vai ter fruto de tudo quanto é tipo na planta — alertou.
O consultor do Itaú BBA cita que, neste cenário, há tendência para formação de preço mais firme tanto no mercado interno quanto externo, e enxugamento dos estoques globais de suco, visto que outros produtores do mundo, como os Estados Unidos, também devem colher menos laranjas.
Previsão
A safra 2019/20, cujo ciclo era de alta, deu origem a uma produção de 1,2 milhão de toneladas de suco no país, 37,4% acima do período anterior, conforme dados da CitrusBR. Com isso, o setor entrou em 2020/21 com estoques recompostos, a 471.138 toneladas em 30 de junho de 2020.
Para o fim de junho de 2021, a previsão preliminar para os estoques globais em poder das empresas associadas à CitrusBR é de 240 a 280 mil toneladas. Entretanto, com a possível intensificação na queda de produção, a formação de reservas da bebida também tende a ficar ainda menor, disse Alves.
Ele ressaltou também que a pandemia do novo coronavírus e as medidas de isolamento social contribuíram para elevar o consumo de suco de laranja.
— E pelo menos enquanto a covid-19 estiver no ar, a demanda deve se manter — concluiu.