Em campanha inédita, país europeu busca estancar doença que tem custado caro ao setor nos últimos anos. Importadores como Japão e Estados Unidos afirmam que irão restringir a compra do produto francês.
Por Redação, com DW - de Paris
A França começou nesta segunda-feira a vacinar patos contra a gripe aviária, em uma tentativa de evitar o abate em massa de milhões de aves, algo que tem custado caro ao setor nos últimos anos.
Duas doses serão aplicadas em filhotes de até 10 dias de idade em todos os criadouros com mais de 250 animais. É o primeiro país a implementar uma campanha nacional de vacinação desse tipo, segundo autoridades francesas.
A criação de patos na França é essencial para a produção de alimentos como o foie gras, proveniente do fígado de pato ou ganso, além da carne em si, e tem sofrido com o vírus, já que muitas aves morrem antes de serem diagnosticadas, contribuindo para que a doença se espalhe sem controle.
A descoberta de um caso significa o abate de toda a população aviária da fazenda e também de outras próximas, interrompendo a produção a longo prazo e levando a um alto custo financeiro para os agricultores.
– Fui atingido por quatro abates desde 2016. Espero que voltemos a ficar incólumes. (A vacinação) Tem que funcionar! – afirmou Thierry Dezes, que cria patos na região de Landes, no sudoeste da França, e planeja vacinar cerca de 5 mil animais.
Os veterinários esperam que um total de cerca de 60 milhões de patos sejam vacinados até o próximo verão europeu, em meados de 2024.
As primeiras 24 milhões de doses virão da farmacêutica alemã Boehringer Ingelheim, o que significa que o governo francês terá que abrir outras licitações para obter mais vacinas.
– Há muita pressão por causa do vírus, mas a vacinação deve significar que teremos (apenas) casos individuais, evitando a enorme onda que atinge as fazendas – disse Jocelyn Marguerie, chefe do setor de aves da Associação Agrícola de Veterinários.
Protestos contra a campanha
A França registrou uma onda de gripe aviária entre os anos de 2015 e 2017, e surtos constantes têm ocorrido desde 2020, ainda que, atualmente, não haja focos específicos da enfermidade.
A campanha de vacinação, porém, tem gerado contestações por parte de produtores, comerciantes e consumidores. Uma fazendeira da região de Landes disse à agência francesa de notícias AFP que alguns clientes ligaram "para dizer que não querem carne de patos vacinados". Ele pediu para não ter a identidade revelada.
Nos mercados para os quais a França exporta carne de pato, há receio de que a imunização possa mascarar a doença pelo fato de ela circular despercebida nos animais.
Um funcionário sênior do Ministério da Agricultura do Japão afirmou à AFP que o país suspenderia as importações de produtos avícolas franceses após o início da campanha de vacinação.
EUA também se manifestam
Na última sexta-feira, o governo dos Estados Unidos disse que a decisão francesa de vacinar patos deverá provocar ainda mais restrições às importações já a partir deste mês de outubro.
Os Estados Unidos não permitem a importação de aves de países afetados pela chamada Gripe Aviária Altamente Patogênica ou de rebanhos vacinados contra a doença, segundo informações do Departamento de Agricultura dos EUA.
O argumento americano é semelhante do japonês, com as autoridades agrícolas dizendo que, mesmo vacinadas, as aves podem não exibir sinais da enfermidade e, desta forma, seria impossível determinar se o vírus está em um determinado lote.
Desde o ano passado, os EUA também têm sofrido com o pior surto de gripe aviária entre aves, com quase 60 milhões de animais mortos. Vacinas foram testadas pelas autoridades americanas, mas o uso não foi aprovado.
Segundo John Clifford, consultor de política comercial veterinária do Conselho Americano de Exportação de Aves e Ovos, os EUA buscarão informações sobre como a França irá monitorar os rebanhos vacinados em busca de sinais de doenças.