A decisão de Nelson Mandela de anunciar que seu filho morreu de Aids dará uma forte mensagem a um país onde o estigma e a negação ainda cercam o vírus HIV.
Acredita-se que mais de 600 pessoas morrem vítimas de males ligados à Aids todos os dias na África do Sul e que milhões são soropositivos.
Mas as pessoas ainda preferem dizer que seus parentes morreram de tuberculose em lugar de Aids. A tuberculose é a infecção oportunista mais comum a matar os portadores do vírus.
Em vários funerais realizados todos os fins-de-semana, as pessoas não costumam falar sobre o que causou a morte. A Aids ainda é um tabu.
E o presidente sul-africano, Thabo Mbeki, tem opiniões controvertidas sobre o assunto. Uma vez ele disse que não conhece ninguém que morreu de Aids e pareceu por em dúvida a ligação entre HIV e Aids.
Ídolo
O governo tem recebido críticas por não agir rápido o suficiente para ajudar a tratar dos portadores do vírus HIV, que causa a Aids. As autoridades tem sido criticadas por ainda enviarem mensagens conflitantes sobre a doença.
Medicamentos antiretrovirais agora estão sendo enviados a várias partes do país, mas ativistas que fazem campanha por tratamento dizem que ainda não estão convencidos de que a entrega está ocorrendo com a rapidez necessária.
Mas, para Nelson Mandela, falar com tanta franqueza sobre o vírus e seus efeitos sobre sua família fará com que muita gente pare e escute, e talvez faça o que ele pediu e seja mais aberta sobre a doença.
É difícil subestimar a condição de ídolo que Nelson Mandela ainda tem neste país, a devoção das pessoas e, conseqüentemente, o impacto que o anúncio que ele fez terá.
Cercado de amigos íntimos e familiares, Mandela deixou claro que a melhor forma de combater o estigma e a negação é ser aberto e honesto sobre o vírus.
O ex-presidente sul-africano começou uma campanha há mais de três anos para conscientizar sobre a Aids, sem saber que isto iria afetá-lo de forma tão pessoal.
Pressão sobre Mbeki
Houve ocasiões em que o ex-presidente criticou com veemência o governo durante sua campanha.
Há um entimento de que, embora o governo tenha avançado bastante nos últimos anos para prevenir a propagação de HIV e tratar dos portadores do vírus, ainda há uma falta de vontade política por parte de líderes como o presidente Mbeki de enfatizar a seriedade da pandemia de HIV/Aids.
Mbeki fala pouco sobre o assunto e declarações de seu ministro da Saúde, Manto Tshabalala-Msimang, sobre os benefícios do alho, da batata africana e de curandeiros tradicionais no tratamento de soropositivos foram criticadas por causar confusão.
A declaração pública de Nelson Mandela vai continuar a colocar pressão sobre Mbeki, especialmente porque ela ocorre depois de uma admissão de outro político veterano sul-africano, Mangosuthu Buthelezi, de que dois de seus filhos morreram de Aids.
Como disse Nelson Mandela, a única forma de derrubar as barreiras em torno do vírus é falar publicamente sobre ele e, fazer isso de maneira tão pessoal, só pode ajudar a conscientizar ainda mais os sul-africanos sobre a doença.
Gesto de Mandela é mensagem contra estigmatização da Aids
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Sexta, 07 de Janeiro de 2005 às 12:24, por: CdB