Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Garimpo em Terra Indígena Yanomami cresce 7% no ano passado, diz relatório

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Sexta, 26 de Janeiro de 2024 às 13:55, por: CdB

O número registrado em 2023 é menor do que o compilado de 2022, quando o avanço da atividade foi de 54%. “No entanto, este incremento revela, também, que a atividade ilegal continua operando com intensidade no território”, diz o relatório.


Por Redação, com Poder360 - de Brasília


A área de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami cresceu 7% e atingiu 5.432 hectares em 2023. O dado foi divulgado nesta sexta-feira em relatório do ISA (Instituto Socioambiental) e da Hutukara Associação Yanomami.




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Área impactada pelo garimpo na região do Apiaú, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima

O número registrado em 2023 é menor do que o compilado de 2022, quando o avanço da atividade foi de 54%. “No entanto, este incremento revela, também, que a atividade ilegal continua operando com intensidade no território”, diz o relatório.


O texto, que reúne dados referentes à presença de garimpeiros na TI, diz que a atividade mineradora continua a produzir “efeitos nocivos” para o bem-estar da população indígena, mesmo com o estado de emergência de saúde decretado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Classifica, ainda, as ações do governo federal na região como “insuficientes”.


O documento usa dados do SMGI (Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal), entrevistas com residentes na terra indígena e dados fornecidos pela organização ambiental Greenpeace.



Desmatamento


Ao todo, 21 das 37 regiões da TI Yanomami registraram casos de desmatamento associados ao garimpo. O local mais devastado, segundo o mapeamento, foi a parte próxima ao rio Couto de Magalhães, com 78 hectares de mata devastados pela atividade de mineração.


Além disso, o Sistema de Alertas da TI Yanomami confirmou a presença garimpeira em pelo menos 13 regiões do território: Alto Catrimani, Alto Mucajaí, Apiaú, Auaris, Homoxi, Kayanau (Papiu), Maturacá, Missão Catrimani, Palimiu, Papiu (Maloca Papiu), Uraricoera, Waikás e Xitei.


As organizações creditam a insistência da atividade ilegal na região às ações pouco frequentes do governo na TI, em especial no 2º semestre de 2023. No período, o Ministério da Defesa assumiu as atividades de expulsão dos mineradores, antes executadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).


“Se no primeiro semestre o conjunto de operações e medidas de controle de acesso ao território contribuíram para a saída de boa parte dos invasores, no segundo semestre, com o relaxamento das ações de repressão, especialmente depois que as Forças Armadas assumiram um maior protagonismo nas operações, observou-se a reativação e a intensificação da exploração em diversas zonas”, diz o relatório.


O documento narra como exemplo a destruição do posto de saúde de Kayanau, depois que um grupo de garimpeiros retornou à região com a saída das forças de segurança da União.


No Rio Uraricoera, os moradores relatam intensificação no trânsito “com o afrouxamento das operações”. O local é uma das principais formas de mobilidade do grupo de mineradores pela TI.


Os indígenas entrevistados ainda denunciaram a reativação de algumas pistas de pouso, como as de Mucuim e Espadinha, depois que muitas delas foram neutralizadas no 1º semestre de 2023.



Saúde  indígena


Para as organizações, o combate à crise de saúde yanomami só será possível com a expulsão completa do garimpo da terra yanomami. O Poder360 questionou o Ministério dos Povos Indígenas e a Casa Civil para saber quais estratégias de retirada estão em curso, mas não teve resposta até a última atualização desta publicação. O espaço segue aberto.


De acordo com dados da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), até novembro de 2023 a TI Yanomami registrou:


Cerca de 649 casos de malária, contra 15.561 em 2022;


5.598 casos de síndrome respiratória grave em 2023, contra 2.478 em 2022;


Cerca de 20.524 casos de síndrome gripal em 2023, contra 3.203 em 2022;


Cerca de 9.550 casos de doenças diarreicas agudas em 2023, contra 5.902 em 2022.


Os dados completos do ano passado ainda não foram divulgados.


As organizações pedem o anúncio de “ações setoriais” e “integradas” para promover uma ação emergencial coordenada. Requerem, ainda, um Plano de Proteção Territorial que inclua, entre outros pontos, uma rotina de patrulhamento na TI e a reocupação das unidades de saúde abandonadas. Pedem, por fim, a ampliação das parcerias e cooperações técnicas com organizações especializadas em saúde para a região.


O Poder360 consultou o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério da Saúde com relação aos requerimentos dos grupos e aguarda retorno.



Crise subestimada


A ministra Sônia Guajajara já reconheceu que o governo subestimou a dimensão da crise na TI Yanomami e não resolveu o problema como prometido. Ela também disse que a questão não deve ser solucionada em 2024.


Em janeiro, quando assumiu o Planalto, Lula e uma comitiva de ministros foram a Boa Vista (RR) para reunião na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. O governo anunciou medidas emergenciais para tratar a questão do povo indígena. Cerca de um ano depois, em encontro com os ministros do governo, o presidente afirmou que os problemas relacionados aos yanomami seriam tratados como questão de Estado.


Em 11 de janeiro deste ano, uma comitiva de ministros voltou a Roraima para monitorar a situação 1 ano depois de o governo federal decretar emergência em saúde pública na TI Yanomami. O governo também anunciou um investimento de R$ 1,2 bilhão em ações voltadas ao território, sobretudo na segurança e acesso a políticas públicas pelos indígenas.




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