O presidente substituto da Fundação Nacional do Índio (Funai), Roberto Lustosa, disse hoje, durante velório do sertanista Apoena Meireles, em Brasília, que o Ministério da Justiça estuda a possibilidade de conceder poder de polícia aos funcionários da instituição, vítimas de constantes ameaças de morte. O corpo de Apoena chegou hoje à tarde ao Rio de Janeiro, onde será enterrado amanhã.
- Uma das coisas importantes que o governo está preparado para resolver é conceder poder de polícia ao nosso pessoal. Essa concessão dará ao servidor uma condição melhor para se defender nas operações de risco - afirmou Lustosa.
Ele explicou que o poder de polícia permitirá que funcionários em operação utilizem armas, dêem voz de prisão, façam apreensões e apliquem multas. Roberto Lustosa lamentou a morte do indigenista.
- Para nós, que somos colegas e amigos dele, foi um choque muito grande. Além de ser uma pessoa de caráter forte e solidário, ele também tinha um papel importantíssimo nesse processo de reestruturação da Funai e na solução das crises que estavam surgindo em Rondônia com os cintas-largas - acrescentou.
O secretário executivo do ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto, vai pedir que a Polícia Federal e a Polícia Civil da Rondônia apurem o mais rápido possível as causas do assassinato de Meireles. "Os indícios apontam realmente para um latrocínio (roubo seguido de morte), mas todas as hipóteses serão investigadas", garantiu.
Apoena Meireles foi morto sábado à noite em Porto Velho, em Rondônia, durante assalto quando estava em uma agência do Banco do Brasil. O suposto assaltante teria fugido levando o dinheiro.
A polícia está investigando o caso e não descarta as hipóteses de latrocínio, crime político e morte encomendada, já que Meireles mediava conflito entre índios cintas-largas e garimpeiros no Pará.
Velório e enterro
Índios de diversas etnias cantaram e dançaram no velório de Apoena Meireles, na sede da Funai, em Brasília, prestando sua última homenagem. Os filhos de Apoena, Tainá e Francisco, estão no velório do pai. O corpo do sertanista sairá de Brasília às 14h30 e chegará ao aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, às 16h10. O enterro está marcado para as 10h desta terça-feira no Cemitério do Caju.
Segundo o presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, a morte do sertanista é uma perda incomensurável.
A fundação ainda não decidiu quem irá substituir Apoena na coordenação dos trabalhos em Rondônia e na missão junto aos índios cintas-largas, para comunicar a decisão do governo federal de fechar o garimpo e de buscar nova legislação que estabeleça racionalidade no processo de mineração. A área é rica em minerais como cassiterita, ouro e diamantes.