A reunião de três semanas a portas fechadas foi antecedida por críticas e avisos de riscos de divisão por parte de conservadores e expectativas dos movimentos progressistas católicos, que reclamam mais poder para leigos e mulheres na Igreja.
Por Redação, com RTP - da Cidade do Vaticano
O papa Francisco repetiu hoje, na abertura do Sínodo dos Bispos Católicos, a mensagem da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, afirmando que a Igreja Católica deve ser um lugar de acolhimento para "todos, todos, todos".
Na missa solene na Praça de São Pedro, que marca o início da reunião dos bispos, Francisco disse que a instituição deve evitar "cair em algumas tentações perigosas: a de ser rígida, uma alfândega, que se encolhe contra o mundo e olha para o passado; a de ser uma Igreja morna, que se rende às modas do mundo; a de ser uma Igreja cansada, fechada em si mesma".
Na homilia, ele observou que essas ideias "preconcebidas" não têm lugar na reunião magna dos bispos. "Jesus também nos convida a ser uma Igreja que acolhe" e "não de portas fechadas" porque, "numa época complexa como a atual, surgem novos desafios culturais e pastorais, que exigem atitude interior cordial e amiga, para poder enfrentá-los sem medo", considerou o papa, dando exemplos: "Vem, tu que te perdeste ou que te sentes alienado; vem, tu que fechaste a porta à esperança, a Igreja está aqui para ti! A Igreja com a porta aberta a todos, a todos, a todos", acrescentou.
Para Francisco, o Sínodo serve para lembrar que a Igreja "está sempre precisando de purificação, de reparação", porque reúne "um povo de pecadores perdoados, sempre a precisar de voltar à fonte, que é Jesus".
Perante "os receios" que surgiram antes do Sínodo, Francisco recordou que o encontro "não é uma reunião política, mas uma convocação no espírito; não é um Parlamento polarizado, mas um lugar de graça e de comunhão".
– A principal tarefa do Sínodo" deve ser "voltar a colocar Deus no centro do nosso olhar, ser uma Igreja que vê a humanidade com misericórdia – disse, defendendo uma estrutura "que tem Deus no centro e que, por isso, não cria divisões no interior, nem é dura no exterior".
A reunião de três semanas a portas fechadas foi antecedida por críticas e avisos de riscos de divisão por parte de conservadores e expectativas dos movimentos progressistas católicos, que reclamam mais poder para leigos e mulheres na Igreja. O Sínodo não tomará quaisquer decisões vinculativas e é apenas a primeira sessão de um processo de dois anos.
Antes de começar, Francisco decidiu, pela primeira vez, permitir que mulheres e leigos (menos de um quarto dos 365 membros da assembleia) votassem ao lado dos religiosos em qualquer documento final produzido.
– É um momento decisivo – disse a leiga de origem indiana JoAnn Lopez, que ajudou a organizar dois anos de consultas antes da reunião nas paróquias onde trabalhou em Seattle e Toronto. "Esta é a primeira vez que as mulheres têm voz qualitativamente diferente à mesa e a oportunidade de votar na tomada de decisões".
Antes da abertura, ativistas colocaram uma faixa roxa gigante numa praça próxima, onde se lia "Ordenar Mulheres".
O papel dos divorciados e novas estratégias para acolher os católicos LGBTQI+ são outros temas que os progressistas esperam debater no encontro.
Conservadores católicos
Os conservadores católicos manifestaram alguns receios. O cardeal norte-americano Raymond Burke criticou a importância do Sínodo para a reforma. Disse que se trata de uma tentativa de transferir a autoridade e a decisão para longe da hierarquia, o que "arrisca a própria identidade da Igreja".
– Infelizmente, é muito claro que a invocação do Espírito Santo por parte de alguns tem o objetivo de apresentar uma agenda que é mais política e humana do que eclesial e divina – disse Burke, na conferência A Babel Sinodal.
Antes do encontro, um grupo de cardeais conservadores desafiou formalmente Francisco a manifestar a posição da Igreja sobre a homossexualidade ou a ordenação de mulheres.
Numa troca de cartas tornada pública na segunda-feira, Francisco admitiu bênçãos para as uniões entre pessoas do mesmo sexo, desde que não sejam confundidas com o casamento sacramental.