Para o escritor, a esquerda teria perdido a ambição de transformar a estrutura da sociedade nos dois pontos fundamentais desse espectro político: igualdade e soberania popular.
Por Redação - de São Paulo
Professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e personagem de destaque no arco das esquerdas, no país, o escritor Vladimir Pinheiro-Safatle disse, em entrevista à mídia conservadora, neste sábado, que esquerda brasileira, como organização política, “morreu” ao se tornar uma "constelação de progressismos”.
Para o escritor, a esquerda teria perdido a ambição de transformar a estrutura da sociedade nos dois pontos fundamentais desse espectro político: igualdade e soberania popular.
— A vitória de Lula foi só um respiro, enquanto a extrema direita continua forte, e mascara a dificuldade de propor soluções para os desafios atuais. A extrema direita é hoje a única força política real do país, porque é a força que tem capacidade de ruptura, tem estrutura e coesão ideológica — afirmou o professor, que acaba de lançar o livro, ‘Alfabeto das Colisões’ (editora Ubu).
Democracia
Para Safatle, “a esquerda brasileira morreu como esquerda". O que existe agora, na visão dele, é uma "constelação de progressismos, mas sem aquilo que constituía o campo fundamental da esquerda, que são as ideias de igualdade radical e de soberania popular".
De acordo com essa análise, o que se perdeu na construção das pautas progressistas foi a ambição por uma transformação estrutural da sociedade, que pressupunha um tipo de igualdade dentro dos processos de produção e alguma forma de democracia direta.
— Hoje não se coloca nada parecido com isso — acrescenta.
Horizonte
Foi esse diagnóstico que o levou a disputar uma vaga de deputado federal em 2022, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Com 17.644 votos, terminou como suplente.
— Entendi que a gente estava num momento histórico que nem era mais de retração de expectativas. Era pior: era um horizonte de retração de enunciação. A gente não conseguia nem enunciar. Quantas vezes você ouviu, nos últimos dez anos, a ideia de autogestão da classe trabalhadora? — questiona.
Embora o quadro não tenha mudado desse ponto de vista, o professor de filosofia não pretende se candidatar na eleição municipal deste ano. Considera que, em 2022, havia um desafio maior em curso, que era a luta contra o bolsonarismo.