Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Nas favelas, milícia disputa com o tráfico; no asfalto, Bolsonaro atinge Witzel

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Sexta, 28 de Agosto de 2020 às 11:21, por: CdB

Tanto Bolsonaro quanto Witzel, ambos foram eleitos na onda conservadora que varreu, nas urnas, as candidaturas de centro-esquerda mas, seis meses depois, já se estranhavam.

Por Redação, com RBA - do Rio de Janeiro
O agravamento da crise política que atinge o país, em especial, o Estado do Rio de Janeiro, após a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que determinou, nesta sexta-feira, o afastamento do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), por seis meses; além da prisão do presidente do PSC, Pastor Everaldo, expõe uma crise intestina nos partidos de extrema direita. Hoje investigados, Witzel e Everaldo foram ‘fiéis escudeiros’ do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), cuja família é investigada por supostas ligações com a milícia armada que domina parte da Zona Oeste do Rio. Nas ruas, o enfrentamento entre traficantes, confrontados nas comunidades por organizações criminosas formadas por ex-integrantes da Polícia Militar, mostram o abandono em que se encontra a outrora Cidade Maravilhosa.
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Witzel e Bolsonaro elegeram-se na onda conservadora que atingiu o país, em 2018
Tanto Bolsonaro quanto Witzel, ambos foram eleitos na onda conservadora que varreu, nas urnas, as candidaturas de centro-esquerda mas, seis meses depois, já se estranhavam. Principalmente no Rio, Estado em que o atual mandatário neofascista mantém um séquito fiel. Bolsonaro riu, à saída do Palácio da Alvorada nesta manhã, ao perguntar para um de seus seguidores quem era "o seu governador, hoje?". — É o vice — respondeu, ao que o presidente riu ainda mais: "Tá acompanhando aí, né?"

‘Defesa jurídica’

O governador foi afastado do cargo por conta de acusações de irregularidades em contratos na área de saúde, não sem contar com o trabalho diligente da subprocuradora da República Lindora Araújo, acusada por Witzel de se unir a Bolsonaro para desestabilizar governadores brasileiros. A ordem judicial determina afastamento por 180 dias. Everaldo, candidato à Presidência da República em 2014 e também ao Senado em 2018, foi um dos alvos dos 17 mandados de prisão expedidos. O ex-juiz federal Wilson Witzel entrou na disputa para o governo do estado entre os últimos colocados. Entretanto, durante a campanha, associou sua imagem e ideias às do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro, dizendo-se a favor de “abater” pessoas suspeitas e que daria “defesa jurídica” a policiais que matassem em confronto. Apesar de Jair Bolsonaro se apresentar como ‘neutro’ na disputa do governo fluminense no primeiro turno, Witzel costurou um apoio com Flávio Bolsonaro, filho de Jair e candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro nas eleições de 2018.

Aliança formal

Em uma das carreatas do ex-juiz, em Nova Iguaçu, Flavio Bolsonaro estava presente e disse: “Todos nós vestimos a mesma camisa, que é a camisa do Brasil, da decência, da moralidade e do respeito com o dinheiro do contribuinte”, disse. Após passar para o segundo turno, com dos 41,28% dos votos válidos, Witzel disse, durante debate realizado pela Rede Globo, que recebeu um telefonema de Flávio o “autorizando a divulgar o apoio” à sua candidatura e acrescentou: “Estou feliz”. Na época, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) proibiu o candidato do PSC de veicular, em propaganda eleitoral, o apoio do filho de Bolsonaro, já que as legendas não tinham aliança formal. A relação dos dois só azedou no segundo semestre 2019, quando o nome de Jair Bolsonaro foi mencionado por um porteiro do condomínio onde ele morava, no Rio de Janeiro, no curso das investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, em março de 2018. Na época, Witzel avisou Bolsonaro, de maneira informal, sobre o processo. O presidente da República acusou o governador de ter vazado informações à imprensa sobre a investigação e afirmou que “era uma tentativa de incriminação”.

Meu pastor

Há três décadas na política brasileira, Pastor Everaldo é acusado pela operação Lava Jato de receber R$ 6 milhões da Odebrecht para ajudar Aécio Neves (PSDB) em um debate presidencial, em 2014. Além disso, também ficou famoso por batizar um de seus aliados, o presidente Jair Bolsonaro, em uma cerimônia nas águas do rio Jordão, em Israel, no dia 12 de maio de 2016 – quando o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi aberto na Câmara. Antes de filiar-se ao PSL, o presidente foi recebido por um lotado auditório, na Câmara dos Deputados, para sua filiação ao PSC, em 2016. Neste dia, Everaldo foi uma das figuras que lançou Jair Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República.

Repercussão

As redes sociais lembraram do elo criado tanto entre Bolsonaro e Everaldo, quanto do presidente da República com o governador afastado do Rio. O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), lembra que a eleição de 2018 foi pautada pelo discurso falso de “anticorrupção”. “Pastor Everaldo, aquele que batizou Bolsonaro em Israel, e Witzel foram presos. A gente falou, não falou? Que nunca foi contra corrupção? Que era só discurso pra ganhar eleitorado? Pra onde foi a moral e os bons costumes ninguém sabe, mas deve ter ficado lá no Rio Jordão mesmo”, disse no Twitter. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lembra que a separação de Witzel e Bolsonaro não foi feita por princípios éticos. “O governo federal também é corrupto e precisa ser investigado. A família inteira envolvida em esquemas, do filho até a primeira-dama. A ‘separação’ entre Bolsonaro e Witzel não é por questão ética, é por motivação política”, disse, em entrevista a Glauco Faria, à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), na véspera. A escritora e colaboradora da Revista Piauí, Daniela Abade, critica a falta de ação contra a família Bolsonaro. “Acho incrível a derrocada e prisão dos ex-aliados de Bolsonaro Witzel e Pastor Everaldo. Tudo bandido. Mas infelizmente é só sinal de que o miliciano aparelhou lindamente a Polícia Federal. Pros inimigos: cadeia. Pros filhos e família: cheques do Queiroz”, publicou.
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