Líderes religiosos e personalidades sunitas ameaçaram hoje boicotar as eleições de janeiro no Iraque, se os Estados Unidos não suspenderem os bombardeios sobre Faluja, sitiada há seis dias e sob intensos ataques da Força Aérea americana.
A cidade rebelde, que fica 50 quilômetros a oeste da capital, foi alvo de novos bombardeios aéreos na madrugada de hoje. Os corpos de seis membros de uma mesma família - quatro crianças, um homem e uma mulher - foram encontrados sob os escombros de sua casa, destruída por um míssil americano, segundo um vizinho.
O Exército americano anunciou que os ataques tinham como alvo esconderijos de simpatizantes do islamita jordaniano Abu Musab al-Zarqawi, atual inimigo número um dos EUA no Iraque.
Algumas horas depois destes ataques, ulemás e personalidades políticas sunitas do Iraque, reunidos em Bagdá, convocaram a população a boicotar as eleições de janeiro próximo, se a operação contra Faluja continuar.
- É inaceitável utilizar a desculpa das eleições para invadir as cidades (...) e os participantes (da reunião) pedem aos iraquianos que as boicotem e considerem seus resultados nulos e sem valor, caso prossigam as operações em Fallujah, os ataques aéreos e os bombardeios aí e em outras cidades iraquianas - um comunicado.
Também hoje, um carro-bomba explodiu ao anoitecer durante a passagem de um comboio militar americano na rua Haifa, sem deixar vítimas, informou um porta-voz militar americano e várias testemunhas.
Em meio ao clima de insegurança, a organização internacional Care decidiu suspender suas operações neste país árabe, após o seqüestro, terça-feira, da diretora do escritório de Bagdá, Margaret Hassan, uma irlandesa naturalizada britânica casada com um iraquiano.
À exceção de um vídeo da rede Al-Jazira com imagens de Margaret, até hoje à tarde não havia notícias dela. Em entrevista à TV Al-Arabiya hoje, seu marido pediu aos seqüestradores que a libertem.
- Minha mulher não se envolve em assuntos políticos. Suas atividades são puramente humanitárias e têm como objetivo ajudar o povo iraquiano, o que ela já faz há 30 anos - declarou Tahsine Ali Hassan, de Bagdá, à emissora com sede em Dubai.
Ainda hoje, o ministro das Relações Exteriores da França, Michel Barnier, disse "sentir" que a libertação dos jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot, assim como seu motorista sírio, mantidos há dois meses em cativeiro no Iraque, "continua sendo possível".
No plano diplomático, a presidência egípcia anunciou que a conferência internacional sobre o Iraque será nos dias 22 e 23 de novembro em Sharm el-Sheikh, no Egito.
- A conferência tratará da forma como aplicar a resolução 1546 do Conselho de Segurança da ONU, para permitir aos iraquianos controlar a situação em seu país, com a ajuda da ONU, e realizar as eleições previstas para início de janeiro de 2005 - explicou o secretário de Estado adjunto americano encarregado do Oriente Médio, William Burns, que visita o Egito.
Segundo ele, Washington e Cairo acreditam que será "uma reunião de representantes governamentais", para a qual não serão convidados líderes iraquianos não-oficiais.
A resolução 1546 (aprovada em 9 de junho passado) sobre a transferência de soberania prevê que o mandato da Força Multinacional seja reexaminado a pedido do governo provisório iraquiano ou 12 meses após sua adoção.