Julian Assange é ilegalmente acusado pelo governo dos EUA de violar a Lei de Espionagem de 1917, usada durante a guerra para perseguir pacifistas e dissidentes e classificá-los como espiões. O jornalista australiano está detido no Reino Unido desde 2019.
Por Redação, com Brasil de Fato - de Brasília
Em visita ao Brasil para uma série de encontros com autoridades políticas, lideranças de direitos humanos e entidades do jornalismo, o editor-chefe e porta-voz do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, disse que a extradição do jornalista Julian Assange para os Estados Unidos, que pode ocorrer nas próximas semanas, representa um precedente perigoso para a democracia, para a liberdade de imprensa e para os direitos humanos.
O editor da plataforma participou do Ato pela Liberdade do Jornalista Julian Assange, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio de Janeiro, na quarta-feira. Acompanhado do editor e embaixador do WikiLeaks, Joseph Farrell, e em agenda por diversos países, os jornalistas encontraram o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na última segunda.
– Vocês, aqui no Brasil, têm a memória viva dos horrores da ditadura, já viram a censura, a supressão da liberdade de imprensa e viram as consequências disso. A extradição de Assange, que pode acontecer em algumas semanas, coloca muitas coisas em jogo, em risco. A nossa luta é uma luta por todos nós, porque essa extradição abre um precedente que coloca em risco a democracia e países como o Brasil – disse ele.
Durante o ato, lideranças de direitos humanos e liberdade de expressão lembraram que os documentos secretos expostos por Assange revelaram a influência dos Estados Unidos sobre promotores da Operação Lava Jato, no Brasil. Assange também foi responsável por publicar entre 2010 e 2011 documentos que revelam crimes de guerra e campos de tortura no Iraque, Afeganistão e na base de Guantánamo, território estadunidense em Cuba.
Hrafnsson afirmou que esteve em Brasília e ouviu diversos parlamentares sobre o sigilo que o presidente Jair Bolsonaro (PL) impôs a informações que deveriam ser públicas para toda a população. Ele comparou os Estados Unidos ao Brasil, ao comentar a escalada de documentos colocados em sigilo em períodos de guerra, época em que Assange atuou.
Prisão "escandalosa"
Julian Assange é ilegalmente acusado pelo governo dos EUA de violar a Lei de Espionagem de 1917, usada durante a guerra para perseguir pacifistas e dissidentes e classificá-los como espiões. O jornalista australiano está detido no Reino Unido desde 2019 em situação política e de saúde precária. Se for extraditado para os Estados Unidos, ele pode receber uma pena de até 175 anos em confinamento solitário.
O presidente da ABI, Octávio Costa, lembrou que a Associação já sediou alguns atos pela liberdade de imprensa e para alertar sobre a situação de Assange. Ele reforçou que nenhum jornalista que apure e divulgue fatos e afete um determinado governo pode ser perseguido.
– Assange corre o risco de ser condenado a quase 200 anos de prisão nos Estados Unidos, isso que está acontecendo é um escândalo, é uma vergonha, é inadmissível. Essa luta está pela liberdade de imprensa está no DNA da ABI, que sempre participou da luta por direitos humanos e liberdade de expressão, temos participado constantemente de eventos em favor de Assange. E por isso estamos novamente aqui hoje – disse Costa.
No próximo dia 9, haverá um ato a partir das 10 horas em frente ao Consulado Geral dos Estados Unidos, no centro do Rio, pedindo que o país retire as acusações contra Assange como forma de proteger a liberdade de imprensa em todo o mundo.
Participaram do ato na Associação Brasileira de Imprensa o Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade dos Povos - Capítulo Brasil, que convocou o ato para o dia 9, a Frente Internacionalista dos Sem Teto (Fist), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ), o Sindicato de Jornalistas do Rio de Janeiro, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), o Instituto Vladimir Herzog, entre outras entidades de jornalismo investigativo, de liberdade de expressão e de direitos humanos.