A cidade de Frankfurt, na Alemanha, é o palco, até 4 de julho, da primeira grande exposição de material publicitário e objetos de cenário, figurino e bastidores dos filmes do lendário diretor Stanley Kubrick.
Quando Kubrick morreu, em 1999, pouco antes do lançamento de seu último filme, eram freqüentes os rumores sobre a obsessão compulsiva e a predileção pela reclusão do diretor.
Havia muitos mitos sobre o cineasta, mas pouco se sabia sobre os métodos que ele utilizava para criar obras-primas como 2001: Uma Odisséia no Espaço e Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba.
A exposição, planejada com a ajuda de Christiane Kubrick (a alemã que é viúva do diretor) e do produtor-executivo Jan Harlan (que trabalhou por muito tempo com Kubrick), procura reparar isso.
Apesar de exibir apenas uma fração do material pertencente ao patrimônio de Kubrick, concentrado na casa do diretor em St. Albans, na Inglaterra, a mostra é simplesmente fantástica.
As peças vão de figurinos a cartazes, de equipamentos de câmera a documentos de trabalho e pesquisa, e de um tabuleiro de xadrez (Kubrick costumava jogar durante as filmagens) a roteiros com anotações.
O fato de que Kubrick planejava os seus projetos cinematográficos com detalhes minuciosos é de conhecimento público, mas em nenhum lugar isso fica tão evidente quanto no trecho da exposição que reúne objetos relacionados à preparação para o filme Napoleão, que ele nunca chegou a realizar.
Por dois anos, no final da década de 60 e início dos anos 70, Kubrick pesquisou o projeto a fundo, trabalhou com o roteiro, encontrou locações, pediu desenhos de figurinos e bombardeou um especialista em Napoleão com questões detalhadas sobre os pequenos hábitos do grande homem.
O item mais impressionante é o cronograma de filmagens do filme que Kubrick disse que seria o melhor já realizado.
O cronograma prevê os "segundos" que seriam necessários e inclui informações sobre a ordem de filmagem das cenas, a ordem em que elas aparecem no roteiro, se a cena deve ser filmada de dia ou de noite, sua locação, em que país e em que estação do ano.
Kubrick, no entanto, não parava por aí. A exposição também inclui um armário cheio de livros sobre o imperador francês - o diretor calculava ter lido quase tudo o que havia sido publicado sobre o assunto - com fichas para catalogar todas as pessoas importantes ao redor de Napoleão e seus movimentos ordenados por ano.
O monumental projeto nunca chegou a evoluir devido a problemas técnicos - Kubrick queria filmar as cenas em ambientes fechados apenas com a luz de candelabros - e aos elevados custos estimados para a produção.
Outros objetos na exposição incluem cartas pessoais - uma de Katharine Hepburn, que recusa gentilmente um papel de protagonista em um filme de Kubrick - e cartas de fãs marcadas com as letras "F-P", para os comentários positivos, e "F-N", para os comentários negativos.
Além disso, há fotografias da chamada "cena da torta", que acabou cortada da versão final de Dr. Fantástico.
A seqüência foi filmada ao longo de cinco dias e foram necessárias 3 mil tortas, mas a cena acabou cortada porque Kubrick avaliou que ela tornaria o filme que ele descrevia como uma "comédia-pesadelo" em uma simples farsa.
Outros objetos da exposição são: o famoso sofá vermelho em forma de boca, inspirado na obra de Salvador Dalí e utilizado em Lolita; a porta do banheiro de gravidade-zero utilizada em 2001; a mesa em forma de mulher nua de Laranja Mecânica; rascunhos de A.I. - Inteligência Artificial (que acabaria concluído por Steven Spielberg); e um modelo em pequena escala da sala de conferência de Dr. Fantástico (nunca exibida por inteiro no cinema).
A exposição oferece uma visão ampla dos métodos do grande diretor, mas revela muito pouco sobre o homem Stanley Kubrick. Uma das frases do diretor, em um trecho da mostra dedicado a