Rio de Janeiro, 21 de Novembro de 2024

Estados Unidos atacam o TikTok para enfrentar avanço tecnológico da China

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Segunda, 10 de Abril de 2023 às 06:55, por: CdB

O governo Biden ameaçou forçar os acionistas chineses do aplicativo a vende-lo para proprietários norte-americanos ou enfrentar uma possível proibição de todos os usuários norte-americanos.


Por Luís Antônio Paulino - de São Paulo


Em mais um lance da guerra tecnológica que os Estados Unidos fazem contra a China, o presidente-executivo do TikTok, Chew Shou Zi, foi submetido, em 23 de março, a horas de interrogatório pelo Comitê de Representantes sobre Energia e Comércio da Câmara dos Estados Unidos, sob alegação de que o TikTok era uma ferramenta usada pelo governo chinês para espionar os EUA e seus cidadãos. Ficou óbvio, pela declaração inicial da presidente do comitê e pelas perguntas subsequentes e declarações de seus outros membros, que eles haviam decidido, mesmo antes do início da audiência, que o aplicativo era uma ameaça ao estado e à sociedade norte-americana.




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Mais um lance da guerra tecnológica que os Estados Unidos fazem contra a China

De nada adiantou o CEO da empresa, nascido em Singapura, afirmar várias vezes que não havia nenhuma evidência de que o governo chinês tenha acesso aos dados dos mais de 140 milhões de usuários do aplicativo nos Estados Unidos. Tampouco convenceu os deputados a afirmação de que a empresa tem um plano de US$ 1,5 bilhão chamado Projeto Texas, que encaminharia todos os dados de usuários dos EUA para servidores domésticos pertencentes e mantidos pela gigante de software Oracle. Conforme informou o jornal o Estado de S. Paulo (23/3), “o acesso aos dados dos EUA seria gerenciado por funcionários dos EUA por meio de uma entidade separada chamada TikTok US Data Security, que emprega 1,5 mil pessoas, é administrada independentemente da ByteDance (a empresa chinesa proprietária do aplicativo) e seria monitorada por observadores externos. Os planos, porém, foram constantemente rechaçados pelos legisladores”.



O governo Biden


Na semana anterior, o governo Biden ameaçou forçar os acionistas chineses do aplicativo a vende-lo para proprietários norte-americanos ou enfrentar uma possível proibição de todos os usuários norte-americanos. O secretário de Estado Antony Blinken chamou o TikTok de uma ameaça à segurança nacional que “deveria ser encerrada de uma maneira ou outra”. Não é a primeira vez que os Estados Unidos tentam forçar a venda do aplicativo a investidores norte-americanos. Em 2020, o governo Trump tentou barrar o TikTok nos Estados Unidos, mas não foi bem-sucedido, pois a própria Justiça norte-americana, considerou a tentativa do governo ilegal.


O governo chinês repudiou as pressões do governo Biden de forçar a venda da empresa a empresários norte-americanos. Conforme noticiou o Financial Times (23/3), “A China disse que “se opõe firmemente” a qualquer venda forçada do TikTok, denunciando a exigência de Washington de que o aplicativo de mídia social corte os laços com seu país de origem antes de uma audiência crucial nos EUA na quinta-feira. “Forçar a venda do TikTok prejudicará seriamente a confiança dos investidores de todo o mundo, inclusive da China, em investir nos Estados Unidos”, disse o Ministério do Comércio chinês. Acrescentou: “A China se opõe firmemente a isso”. Ele alertou que uma venda ou desinvestimento do TikTok envolve “exportação de tecnologia” que deve ser aprovada pelo governo chinês”.


Por trás de tudo isso, não só questões de segurança que estão em jogo. Provavelmente, é o que menos conta. Há, obviamente, grandes interesses comerciais. Conforme noticiou o South China Morning Posto, jornal de Hong Kong, em 24/3, “A receita de publicidade da empresa nos EUA foi de US$ 11 bilhões em 2022, um aumento de 200% em relação a 2021, de acordo com estimativas da empresa de pesquisa eMarketer”. Certamente, as concorrentes norte-americanas na área de redes sociais, como Facebook, Twitter e outras plataformas de mídia social baseadas nos Estados Unidos têm sentido o impacto da concorrência do TikTok em seu faturamento. Nunca é demais lembrar que tanto Facebook, quanto o Twitter, agora adquirido por Elon Musk, proprietário da Tesla, anunciaram recentemente a demissão de milhares de funcionários para cortar custos.


É preciso destacar ainda que as empresas chinesas na área de inteligência artificial possuem uma “vantagem natural” em relação a seus concorrentes no resto do mundo, que é a enorme base de dados a que elas têm acesso em seu próprio país para alimentar e aperfeiçoar seus algoritmos. Conforme destacou o Wall Street Journal (26/3), “A eficiência organizacional das empresas chinesas de internet é negligenciada por seus concorrentes norte-americanos, dizem investidores, engenheiros e analistas. As empresas chinesas gastam generosamente para impulsionar seus aplicativos nos EUA. Elas aproveitam o bilhão de usuários de internet da China para testar as preferências do usuário e otimizar seus modelos de IA em casa, depois exportam a tecnologia para o exterior. “Eles estão matando totalmente em mercados onde precisam reiterar constantemente os produtos para atender às demandas dos usuários”, disse Guo Yu, ex-engenheiro sênior da ByteDance Ltd., controladora da TikTok, que trabalhou na empresa entre 2014 e 2020”.



Guerra tecnológica


A atual disputa em torno do TikTok é, portanto, apenas mais um lance na guerra tecnológica que os Estados Unidos travam contra a China para evitar para não serem superados pelos concorrentes chineses nas indústrias mais promissoras e com maior potencial de desenvolvimento e, portanto, de lucros, no futuro. A bola da vez é a TikTok, da mesma forma que há alguns anos o alvo foi a Huawei, empresa chinesa líder mundial no desenvolvimento de tecnologias e produção de equipamentos para a Internet 5G. A alegação de riscos de espionagem e ameaça à segurança nacional americana é sempre uma desculpa bastante conveniente para justificar a presença da mão pesada do Estado norte-americano para defender o monopólio de mercado para as chamadas BigTechs norte-americanas.


 

Luís Antônio Paulino, é professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), diretor do Instituto Confúcio na Unesp, pesquisador do Instituto de Estudos de América Latina da Universidade de Hubei, China e colaborador do portal Bonifácio.


As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil



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